SOBRE O TRANSTORNO DE PÂNICO

Na psiquiatria, muitas vezes, tratamos de situações em que ocorrem sensações normais de forma e frequência diferentes. Assim é no transtorno de pânico.

Nós temos um sistema de alerta que, quando nosso cérebro detecta alguma situação ameaçadora, nos prepara para lutar ou fugir. Esta é a função da adrenalina. Ela “arregala os olhos”, acelera a respiração e o coração, para a digestão dos alimentos e acelera o processo de pensamento. Assim, buscamos rotas de fuga e estamos com mais oxigênio para fugir da ameaça detectada. Com o fim da ameaça, ocorre o famoso “ufa” e tudo se normaliza.

Estas reações físicas que ocorrem quando estamos “nervosos” são normais e reativas ao estado emocional, não são sinal de doença física.

Mesmo sem estarmos sob risco, ao vermos uma barata, por exemplo, e interpretarmos a situação como ameaçadora, ocorrerá a reação emocional e física já descrita, que prepara a pessoa para fugir desta “catástrofe”.

No transtorno de pânico, após alguns “ataques de ansiedade” normais, o paciente interpreta a própria reação física da ansiedade como ameaçadora. Começa a ficar com medo da taquicardia, do aumento da pressão, do tremor, a cismar que está com doença no coração, etc...

A ameaça passa a ser a própria reação física que a adrenalina provoca, como a aceleração do coração. A reação física gera, então, ansiedade que gera reação física que gera ansiedade...Não é incomum a procura por vários médicos, achando tratar-se de doença física, no coração ou pulmão, e a piora da angústia até se conseguir um diagnóstico correto.

As crises de ansiedade ficam cada vez mais intensas e frequentes e acarretam medo de tê-las. E o medo gera adrenalina que gera crise.

Se o sujeito pensar “vai que eu vá ao show e tenha uma crise lá”, o medo da crise gera, então, o ataque de pânico. É comum a pessoa ficar com medo de ter crise e de sair de casa, principalmente sozinha.

Este processo de doença já é bastante estudado e técnicas de terapia que ajudam a pessoa a desconstruir este ciclo de medo (notadamente a psicoterapia cognitivo- comportamental) podem solucionar o problema, inclusive sem o uso de medicação.

Quando os sintomas estão muito intensos ou quando a pessoa não tem acesso à psicoterapia, pode-se tratá-la com medicações também bastante eficazes. São utilizados os populares ‘calmantes”. Eles oferecem um alívio dos sintomas, mas não mudam o processo da doença ou impedem nova crise. Há medicações que mudam o processo da doença e podem reverter, de forma até definitiva, o transtorno de pânico. O uso de calmantes sem o uso destas medicações que mudam o “metabolismo da adrenalina” não é indicado. Aliviam mas não resolvem o problema.

Há uma tendência hereditária ao transtorno de pânico que pode aparecer em até 5 % das pessoas, mais comumente em mulheres entre os 20 e 60 anos.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 

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