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O QUE VOCÊ VAI SER QUANDO CRESCER?
Em alguma época da vida todos nós já ouvimos essa pergunta. É através dela que nos deparamos com as exigências do mundo do trabalho. Para alguns pode ser que a pergunta veio muito cedo, mas sempre sinaliza várias questões envolvidas na escolha profissional. A escolha normalmente se inicia na adolescência, período de transição e com significativas mudanças físicas e psicológicas que prepara-nos para a idade adulta.

A escolha da profissão não é somente um projeto profissional, mas estabelece como viver, com quem se relacionar, onde morar, etc. Isso se deve à identificação de nosso papel social com a profissão que desempenhamos.

Ademais, diferentemente do passado em que ter um “diploma” era sinal de prestígio social e sucesso profissional, isso atualmente pode não ocorrer, mesmo naquelas atividades de nível universitário.

Em tempos passados e atuais, a família é uma importante referência social que pode auxiliar, proporcionando momentos de diálogos e vivências positivas. Por outro lado, também pode dificultar e tumultuar com cobranças ou negar-se em se manifestar. As influências familiares podem ser diretas ou indiretas, podendo ou não favorecer a escolha.

A participação efetiva da família reduz a ansiedade, os medos e as fantasias. Leva o jovem a assumir um papel ativo no processo decisório da escolha de seu campo de trabalho futuro e ajuda na construção de sua identidade pessoal.
Os grupos de apoio e as redes sociais em que o adolescente desenvolve sua identidade pessoal também são de suma importância para informar e desenvolver adequadamente o projeto de escolha profissional.

O acesso à informação, quando de boa qualidade, através da internet, revistas e livros, também habilita esta escolha.
Equipes multidisciplinares — psicopedagogos e psicólogos — podem auxiliar os adolescentes a elaborar seus conflitos, relacionados à sua escolha. Através de reuniões e discussões em grupo, contribuem para o entendimento das questões do universo do trabalho e de outros aspectos determinantes da problemática daquela escolha.

Assim, família, grupos sociais e equipes multidisciplinares, dentre outros, definem os limites do autoconhecimento. Eles integram fatores externos e internos que organizam a futura identidade profissional e pessoal do adolescente ao se tornar adulto.

Anelise Caldonazzo Pinheiro
 
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CUIDADORES INFORMAIS - TAREFAS TRADICIONAIS E NOVAS OCUPAÇÕES
As estatísticas do IBGE informam que o número de idosos dobrou nos últimos 25 anos e a estimativa é que em 2025 seremos a sexta população idosa do planeta. As pessoas com mais de 65 anos representarão 14% da população brasileira. Essa realidade reflete o aumento da expectativa de vida, fruto das melhores condições de vida, do desenvolvimento social e dos benefícios da evolução médica.

Todavia, por mais que as pessoas estejam vivendo mais, continuam ocorrendo eventuais dificuldades e necessidades especiais referentes ao processo de envelhecer.

Tradicionalmente, o cuidado dos idosos era – e ainda é em muitos casos – realizado nas famílias. No entanto, as mudanças sociais exigem a participação da mulher e dos demais membros produtivos da família no mercado de trabalho, ao passo que ocorre uma diminuição do número de filhos por família. Estes fatores geram uma indisponibilidade de parentes para cuidar dos idosos dependentes. Assim, as famílias começam a buscar pessoas leigas (cuidadores informais) que se disponham executar essa tarefa. Normalmente, alguém na família assume a maior parte do cuidado com a ajuda do cuidador. Como podemos nos adaptar a essa "nova" realidade social? Como nos adaptarmos às diferentes demandas dos nossos entes queridos?

A mulher normalmente assume essa função em razão de seu papel natural de gerar, criar, nutrir e cuidar. E assim, é comum a mulher conservar a sua função no cuidado do idoso. Porém, dificilmente assume que é uma cuidadora, pois acha que cuidar de alguém que se ama não é uma tarefa, mas algo natural. Ser um cuidador, entretanto, requer aprendizado e adaptação.

Cuidador de idosos é uma profissão reconhecida e inserida na Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil, com o Código 5162-10 (Cuidador de pessoas idosas e dependentes e Cuidador de idosos institucionalizados). Esta capacitação também é exigida dos profissionais que trabalham em instituições que cuidam de idosos.

O cuidador é peça fundamental na difícil tarefa de proporcionar um envelhecimento mais saudável e com menor sensação de desamparo. E apenas o trabalho, o ato de zelar, não faz um cuidador. É necessária a união do trabalho com a disponibilidade, a capacidade de ouvir o outro, sem tirar dele a autonomia e a independência.

Anelise Caldonazzo Pinheiro
 
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ESCOLHER UMA ESCOLA: DÚVIDA CRUEL
Pode haver grande indecisão e insegurança em muitas famílias que têm crianças em idade escolar. Qual a melhor escola para matricular seus filhos? Como saber se os alunos daquele colégio muito grande e muito conceituado não apresentam dificuldades? E as crianças que saem e entram chorando todo o tempo? E aquela outra escola que é boa, mas é tão longe de casa? A criança passará muito tempo no trânsito?

É importante visitar várias escolas e preferencialmente com a criança, pois esta deve participar do processo e emitir a sua opinião dizendo se o ambiente a agradou ou não. Os pais, atentos a qualquer reação da criança, perceberão sinais de aprovação ou não. A criança, para estar adaptada, precisa conhecer o local onde estuda e sentir-se bem nele. É necessário que ela também conheça as pessoas, colegas e professores com quem conviverá grande parte do dia. Procure observar se o barulho é excessivo, pois isso pode interferir na aprendizagem da criança. Como é o recreio? Quem cuida das crianças? Como é o acesso ao parque ou a outros espaços escolares?

Há colégios que dão mais ênfase ao desenvolvimento das capacidades de aprendizagem do aluno. Preferem ensinar a ler, escrever e a raciocinar, antes de enfatizar conteúdos específicos. Outras escolas priorizam desde cedo os conteúdos que as crianças têm que aprender. Redes de escolas particulares em geral padronizam a qualidade com apostilas e treinamento para professores.
Questionar os métodos utilizados pela escola, as habilidades dos professores e as decisões da escola é um direito dos pais, pois a família deve participar da vida escolar; entretanto, a confiança na escola deve estar presente a todo instante.
A infraestrutura - biblioteca, laboratórios, informática, quadras - é importante para o aluno. Crianças que moram em apartamentos são beneficiadas por um espaço escolar amplo.

O local em que está localizada a escola deve ser avaliado, pois há que se considerar perda de qualidade devida ao trânsito. Existe o recurso do transporte escolar, que deve ser questionado quanto ao custo e aos momentos de desgaste. O trânsito nesse transporte é estressante e consome o tempo das crianças.

O numero de alunos por sala e um quesito a ser observado. Ter muitos alunos na sala diminui a possibilidade da atenção mais individualizada do professor, principalmente nas séries iniciais. A partir do sexto ano, um ambiente muito familiar pode ser visto pelo adolescente como invasivo.

Ter um quadro docente bem preparado indica melhor formação e experiência dos professores. Atualmente, formação contínua com atualizações é obrigatória para todos.

Verificar a disciplina, a carga de conteúdo e tarefas para serem resolvidas em casa, vai depender essencialmente dos valores da família e das características individuais de cada filho. Limites impostos pela escola, como ter de usar uniforme e não poder chegar atrasado à aula, podem ajudar o aluno a se organizar. Mas não se pode buscar na escola o que não está presente em casa. E saiba que, se for o caso, a situação poderá ser revista.

Anelise Caldonazzo Pinheiro
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LER PRÁ QUÊ?
Hoje, com a mudança da “série” para o famoso “ano”, alterou-se também o contato da criança com a leitura e a escrita. As crianças de 05 a 08 anos estão no momento mais intenso de alfabetização e acompanhar esse processo em uma sala de aula é fácil. Basta verificar se a escola valoriza, desde cedo, a inserção das crianças no mundo da leitura e da escrita e qual o repertório de textos que elas já têm aos 5 anos de idade.

As paredes da sala de aula devem demonstrar a quantidade e a variedade de informações com as quais as crianças já tiveram contato e, por isso, podem conter recortes de jornal, listas de palavras, redações de alunos, etc. Nunca devem ser um local de enfeite que permanece intacto durante o ano todo.

O processo de alfabetização deve ser muito valorizado porque, diferentemente do que ocorreu na geração da vovó, não utiliza cartilhas. Assim, quanto mais for possível, deve-se ler e contar histórias. Essa prática habitua as crianças a diferentes tipos de texto e favorece a alfabetização. É importante reconstruir a história apresentada através de perguntas: “Como começou a história? Como terminou?” A professora deve incentivar a recontagem para que as crianças organizem os fatos mentalmente e depois consigam recontá-los.

Na alfabetização não se usam mais aquelas frases tipo "O Ivo viu a uva" ou "A babá brinca com o bebê". Por outro lado, é importante entender como ocorre o processo para que ele não se perca nos modismos que tanto prejudicam a criança. Notícias de uma reportagem de jornal devem sempre favorecer a resposta das perguntas “quem, quando, onde, como e por quê”. Devem ser escolhidas de acordo com interesses das crianças, pois favorecem a interação com o mundo real.

Só depois do processo de alfabetização estar mais organizado é que se parte para o trabalho mais detalhado com a ortografia. Muito cuidado com excesso de regras que pode prejudicar a falta de fixação de conteúdo. Frequentemente devem ocorrer leituras e escrita de pequenos textos orientados, conforme a idade da criança.

A neurociência tem chegado a conclusões muito úteis para os educadores. Por exemplo, o cérebro se desenvolve na relação da criança com o meio: um ambiente com estimulação adequada leva ao desenvolvimento de um cérebro com mais recursos e estratégias para resolver situações desafiadoras. 

Anelise Caldonazzo Pinheiro
 
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DIFICULDADE COM NÚMEROS E CÁLCULOS É MAIS COMUM DO QUE SE PENSA.
Déficit de percepção visual ou problemas quanto à orientação sequencial podem levar à dificuldade de aprendizagem com as operações aritméticas. O indivíduo é quase "cego" para questões envolvendo números e precisa usar os dedos para resolver os mais simples problemas de adição e até mesmo contagem. Consegue entender os conceitos matemáticos, porém tem extrema dificuldade em trabalhar com números, símbolos matemáticos, fórmulas e enunciados. Apresenta lentidão extrema da velocidade de trabalho, pois não tem os mecanismos necessários para decorar tabuada e conseguir usar as sequências numéricas decoradas. Não consegue posicionar os números de uma operação na folha de papel e apresenta dificuldades para lidar com operações (adição, subtração, multiplicação, divisão). Faz muita confusão no uso de símbolos matemáticos (= + - : . < >) e possui dificuldade para entender palavras usadas na descrição de operações matemáticas. A dificuldade para aprender números, termos matemáticos e cálculos pode ser classificada como discalculia (incapacidade de calcular) e agnosia digital (incapacidade de envolver os dedos da mão em processos mentais, como o de contar). Estima-se que esses problemas afetam entre 5% a 10% dos alunos e é mais comum do que a dificuldade com a leitura e escrita. A dificuldade com os números tem um impacto no desempenho acadêmico e nas oportunidades de trabalho. Os estudantes com esses sintomas são infelizes e seus professores sentem-se impotentes. Muitos pais ignoram que essa condição possa estar acontecendo com seus filhos e até em alguns casos consideram que seja falta de compromisso da criança com o conteúdo escolar.

Os educadores devem estar atentos aos sintomas da discalculia, de forma que possam oferecer ajuda aos que apresentarem essa dificuldade.

Sugestões para ajudar:

• Prestar atenção ao processo de pensamento utilizado pela criança.
• Incentivar a visualização do problema, com desenhos, para depois investigar o processo utilizado na escola.
• Permitir o uso de calculadora e tabela de tabuada.
• Usar caderno quadriculado.
• Elaborar questões claras e diretas nas avaliações.
• Reduzir ao mínimo o número de questões.
• Aplicar prova sem limite de tempo e com um monitor, para se certificar que o aluno entendeu o que foi solicitado nas questões.
• Garantir espaço para que a criança desenvolva oralmente as soluções matemáticas, para depois redigi-las no papel.
• Transcrever as respostas da avaliação, durante a prova, se necessário; o professor deve lembrar-se que os números e o cálculo são óbvios para nós... 

Anelise Caldonazzo Pinheiro
 
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COMO É FAZER PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL-COGNITIVA?
A Terapia Comportamental Cognitiva é uma psicoterapia breve e estruturada, focada na solução de problemas. Envolve a colaboração ativa entre o paciente e o psicólogo para que se alcancem os objetivos terapêuticos que são estabelecidos por ambos.

Esse modelo está estruturado no modelo de funcionamento cerebral atualmente aceito e nos benefícios obtidos por diferentes técnicas de terapia, comprovadamente utilizadas pela comunidade científica.

A demanda do paciente sempre tem como base transtornos psicológicos que podem ser, por exemplo, a não aceitação de situações que ele não acredita ou não considera justas. Logo, submeter-se à psicoterapia não é fácil. Mudanças podem causar sofrimento. Portanto, torna-se necessária uma percepção de que o sofrimento decorrente da mudança é melhor que o do problema em si.

O psicólogo ajuda o indivíduo a ter emoções funcionais. Emoções são funcionais quando nos ajudam a lidar com as situações-problema, permitindo uma conduta adequada e colaborando para a sua resolução. Mesmo as emoções negativas são necessárias, desde que sejam adaptativas e compatíveis com a realidade do indivíduo. E, certamente, as emoções que limitam nossas possibilidades de crescimento devem ser tratadas.

As emoções comunicam! É através delas que o organismo “avisa” que algo não está funcionando bem. As emoções são desencadeadas por nossa percepção das situações. Assim, se percebemos algo como perigoso, sofremos a emoção do medo mesmo se não há qualquer perigo. Portanto as emoções podem ser desadaptativas se nossa percepção for equivocada.

O tratamento destas percepções distorcidas, pelo psicólogo cognitivista, poderá impedir o sofrimento e a inadaptação advindos de uma percepção errônea. Se eu acredito que “não darei conta” de determinada situação, posso nem tentar resolvê-la... Há técnicas e estudos para que o psicólogo possa ajudar o paciente a identificar suas percepções, testá-las e corrigir conceituações distorcidas. Ele é um educador, não cura! Ajuda a compreender e auxilia no enfrentamento dos problemas, assim diminuindo o sofrimento.

Carolina Sabbag Leonel e Dr Jairo Pedro Cardoso Junior
 
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SOBRE O TRANSTORNO DE PÂNICO
Na psiquiatria, muitas vezes, tratamos de situações em que ocorrem sensações normais de forma e frequência diferentes. Assim é no transtorno de pânico.

Nós temos um sistema de alerta que, quando nosso cérebro detecta alguma situação ameaçadora, nos prepara para lutar ou fugir. Esta é a função da adrenalina. Ela “arregala os olhos”, acelera a respiração e o coração, para a digestão dos alimentos e acelera o processo de pensamento. Assim, buscamos rotas de fuga e estamos com mais oxigênio para fugir da ameaça detectada. Com o fim da ameaça, ocorre o famoso “ufa” e tudo se normaliza.

Estas reações físicas que ocorrem quando estamos “nervosos” são normais e reativas ao estado emocional, não são sinal de doença física.

Mesmo sem estarmos sob risco, ao vermos uma barata, por exemplo, e interpretarmos a situação como ameaçadora, ocorrerá a reação emocional e física já descrita, que prepara a pessoa para fugir desta “catástrofe”.

No transtorno de pânico, após alguns “ataques de ansiedade” normais, o paciente interpreta a própria reação física da ansiedade como ameaçadora. Começa a ficar com medo da taquicardia, do aumento da pressão, do tremor, a cismar que está com doença no coração, etc...

A ameaça passa a ser a própria reação física que a adrenalina provoca, como a aceleração do coração. A reação física gera, então, ansiedade que gera reação física que gera ansiedade...Não é incomum a procura por vários médicos, achando tratar-se de doença física, no coração ou pulmão, e a piora da angústia até se conseguir um diagnóstico correto.

As crises de ansiedade ficam cada vez mais intensas e frequentes e acarretam medo de tê-las. E o medo gera adrenalina que gera crise.

Se o sujeito pensar “vai que eu vá ao show e tenha uma crise lá”, o medo da crise gera, então, o ataque de pânico. É comum a pessoa ficar com medo de ter crise e de sair de casa, principalmente sozinha.

Este processo de doença já é bastante estudado e técnicas de terapia que ajudam a pessoa a desconstruir este ciclo de medo (notadamente a psicoterapia cognitivo- comportamental) podem solucionar o problema, inclusive sem o uso de medicação.

Quando os sintomas estão muito intensos ou quando a pessoa não tem acesso à psicoterapia, pode-se tratá-la com medicações também bastante eficazes. São utilizados os populares ‘calmantes”. Eles oferecem um alívio dos sintomas, mas não mudam o processo da doença ou impedem nova crise. Há medicações que mudam o processo da doença e podem reverter, de forma até definitiva, o transtorno de pânico. O uso de calmantes sem o uso destas medicações que mudam o “metabolismo da adrenalina” não é indicado. Aliviam mas não resolvem o problema.

Há uma tendência hereditária ao transtorno de pânico que pode aparecer em até 5 % das pessoas, mais comumente em mulheres entre os 20 e 60 anos.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 
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SOBRE AS DESORDENS DA PERCEPÇÃO
Nós, seres humanos, agimos conforme a forma com que percebemos a realidade e o julgamento que fazemos daquilo que foi percebido. Isso explica, por exemplo, situações atualmente não aceitas por nossa sociedade, mas aceitas e julgadas corretas por outras culturas, como a submissão das mulheres, o preconceito de raça, entre outros equívocos. Isso também vale para o julgamento de situações como importantes ou ameaçadoras,  que, em última análise, molda as diferenças das sociedades.

Entretanto, há doenças mentais em que a percepção e o julgamento do indivíduo são peculiares e não compartilhadas por seu grupo social. Essas são ditas doenças psicóticas, em que o indivíduo quebra o seu contato com a realidade. Nestas, comumente, o indivíduo apresenta alucinações que são percepções auditivas ou visuais de objetos irreais, tal qual fossem reais, e delírios. O julgamento dos indivíduos nesses casos é distorcido, induzindo a pensamentos de que são perseguidos por entidades sobrenaturais ou de que estão com uma doença mortal inexistente.

Depreende-se da explanação que a gama de vivências psicóticas é ampla. Podem decorrer do uso de drogas lícitas ou ilícitas, de doenças físicas ou de doenças mentais como a depressão, doença bipolar e a esquizofrenia. São graves, porque há grande risco para si e para outrem. Afinal, o paciente se guia pelo julgamento distorcido, por exemplo, ao gastar mais dinheiro do que o possível, motivado por delírios de grandeza.

Os sintomas psicóticos, que ocorrem na doença depressiva bipolar ou são relacionados ao uso de substâncias ilícitas, resolvem-se normalmente, assim que o fator causal é resolvido. Na esquizofrenia, todavia, os sintomas psicóticos são contínuos e constituem a característica central da doença. Acomete 0,8 % da população mundial e, antes do surgimento de eficazes medicações e abordagens psicoterápicas, tornava seus portadores inválidos e até perigosos para a sociedade. Atualmente, estas ferramentas lhes permitem ter uma vida plena, em que suas percepções diferentes são, inclusive, materiais para inéditas obras de arte e invenções.

Deve-se lutar para que os portadores de doenças psicóticas tenham acesso a tratamentos eficazes e individualizados e expressem amplamente sua cidadania. Deve-se lutar contra o uso de substâncias ilícitas que podem até tornar o usuário esquizofrênico em definitivo. E, ainda, lutar para que nossas percepções sociais comunguem dos valores fundamentas da ética, da cidadania, do respeito e da tolerância à diferença. Assim, evitaríamos influências nocivas de doenças graves e equívocos como a escravidão.   

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 
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LIDANDO COM ‘RISCOS‘ QUE AS ‘DROGAS’ OFERECEM AOS NOSSOS FILHOS
As preocupações dos pais dos adolescentes, cada vez mais, transferem-se para a preocupação com as drogas.

É fato que, desde tempos imemoriais, o ser humano consome drogas de abuso, que podem causar vício. O vinho já existia nos tempos bíblicos e o uso de Ayahuasca e coca pelos indígenas andinos também é muito antigo. Entretanto, devido a vários fatores sociais, o uso de substâncias entorpecentes nos tempos modernos, tem sido feito por pessoas mais jovens (portanto imaturas). É muito mais intenso, deixou de ser ritualizado e têm sido utilizadas substâncias muito mais viciantes. Através do estudo dos fatores que tornam as pessoas usuárias, temos como planejar estratégias preventivas. Abaixo, citamos alguns fatores de alerta e prevenção:

-O acesso familiar ou social a “drogas mais leves”, como o álcool e o cigarro, favorece o uso de outros entorpecentes.

-A presença ativa do pai, como figura masculina, ajuda o adolescente a canalizar a sua agressividade, dá limites e impõe respeito. Isso diminui em até 3 vezes o risco de adicção a substâncias ilícitas.

- Quanto aos amigos e vizinhos, sabe-se que a “galera”, com as regras impostas aos seus membros, influencia mais o comportamento dos adolescentes do que influenciam seus pais. Assim, numa “turma” em que convivem usuários ou o comportamento é tolerante às drogas e à delinquência, o risco de uso regular aumenta em até 4 vezes.

-A curiosidade, principalmente nos mais jovens, é característica do ser humano. Assim, o acesso fácil a substâncias ilícitas e altamente viciantes, como a cocaína, o cigarro e a maconha, pode fazer um “experimentador curioso” tornar-se um “viciado”.

Poderíamos estender a discussão de outros fatores, mas gostaria de derrubar alguns mitos:                                                                                                                
1. Maconha é droga viciante, perigosa, não apenas porque pode ser a porta de entrada da cocaína. Ela aumenta, mesmo no uso esporádico, a chance de alguém tornar-se esquizofrênico em até 10 vezes! E o argumento de que é “natural” simplesmente não cola. Veneno de cascavel também é natural...                                                                                   
2. O uso de álcool, que para muitos adultos é completamente social e controlável, não é assim para adolescentes, imaturos e impulsivos. O uso abusivo e o risco de acidentes automobilísticos entre eles são muito maiores que os do adulto, que já são altos! O álcool também pode funcionar como “porta de entrada” para outras substâncias.

O vício não é problema de caráter, é doença. A sua solução passa pelo tratamento, que deve ser individualizado, e pode envolver diversas modalidades de terapia psicológica e, eventualmente, internações e medicações. Grupos como os narcóticos anônimos, com certeza, ajudam bastante os usuários e suas famílias.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
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SOBRE O USO DE CRACK : TEMA ÁSPERO, MAS NECESSÁRIO
O crack vem ceifando vidas de brasileiros no início de sua vida produtiva há mais de 15 anos. Entretanto, há aproximadamente 10 anos, caminhou para uma massificação e chegou, até mesmo, ao interior do Brasil.

Resumidamente, o “crack” é a cocaína fumável. No uso inalatório a cocaína é absorvida pela mucosa nasal e, na forma de “crack”, ela é absorvida por toda a mucosa pulmonar (que, se fosse estendida, teria o tamanho de uma quadra de tênis). Como o crack é queimado, sua industrialização é simples, o que o torna mais barato que a cocaína.

Já foi comprovado que 2 ou 3 usos provocam a dependência. Esta dependência é, infelizmente, uma das mais intensas observadas pela medicina. Enquanto o uso esporádico ocorre em usuários de álcool, maconha ou cigarro, pelo menos 90% dos usuários de crack caminham para uso compulsivo. É comum, inclusive, permanecerem 48 horas fora de casa, em uso contínuo! Daí a limitação que esta droga causa nas vivências familiares e sociais do usuário. Se não tratados, 25 % dos usuários podem, em 5 anos, morrer em decorrência de consequências diretas e indiretas do uso.

O usuário de crack normalmente já foi usuário de maconha, cocaína ou álcool. Ao iniciar o uso, gradualmente migra para seu uso exclusivo, ou associado ao álcool. Seu baixo custo e a facilidade de na aquisição, que ocorre nos mesmos locais de venda dos outros entorpecentes, favorece o início do uso.

A prevenção mais eficaz do uso do crack seria a detecção precoce e o melhor tratamento possível do usuário das substâncias citadas, as “portas de entrada”. Para isso, é importante nossa maior proximidade de nossos filhos, assim como uma política de “tolerância zero” a qualquer entorpecente, incluindo o álcool e o “lança- perfume”.

Após a adicção ao crack, o tratamento é bem mais difícil devido aos fatores já citados. Deve ser multidisciplinar, associando suporte familiar, psicológico e de grupos de apoio, além de suporte medicamentoso. Fatores colaboradores do uso devem ser tratados como qualquer doença psiquiátrica, bem como os conflitos familiares e os problemas sociais. Além disso, é comprovada a eficácia dos “12 passos” neste tratamento.

Em casos mais graves, normalmente é necessária a internação hospitalar ou em comunidades terapêuticas. Assim, o paciente passa a fase mais crítica da abstinência e “fissura” em ambiente protegido do acesso à droga. A recaída no uso, durante o tratamento, pode ser comum, mas, se ele é rapidamente retomado e corretamente trabalhado, o sucesso do tratamento não fica comprometido.

Existem medicações que diminuem de forma parcial e significativa as “fissuras” e a abstinência, porém aguardamos com muita expectativa tratamentos medicamentosos mais eficazes, já em pesquisa.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 
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SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE
Uma recente pesquisa americana demonstrou que, estatisticamente, os adolescentes homossexuais têm chances 3 vezes maiores que os adolescentes heterossexuais de terem uma gravidez precoce indesejada e 4 vezes mais chance de suicídio. É comum na história de homossexuais tentativas impulsivas e de alta carga emocional de relacionamentos heterossexuais. O incômodo de ser “diferente”, o medo de não ser aceito pela família ou pela religião e o medo de decepcionar os pais geram as ideias suicidas.

Se pensarmos que a prevalência da orientação homossexual na população brasileira é estimada em 4 a 6 % dos homens e metade deste valor nas mulheres, há pelo menos 8 milhões de brasileiros sujeitos aos sofrimentos acima citados.

Diante desses dados, não é possível pensar em opção sexual. Ninguém opta voluntariamente por algo que lhe causaria sofrimento. Há evidências cienti­ficas bastantes de que o homossexual tem uma constituição cerebral diferente e própria desde o nascimento. Então, ele não torna-se homossexual, ele descobre-se.

É possí­vel que adolescentes heterossexuais, na sua fase de autodescoberta, possam ter experiências homossexuais. Também é possível que tenham algumas preferências, gostos ou comportamentos inerentes ao sexo oposto. Mas, quem nasceu homossexual tem uma constituição irreversí­vel, uma orientação que não é uma doença ou um desvio; é uma variação da normalidade, como a cor dos olhos. E, como o seu cérebro tem uma constituição diferente, pode ter aptidões mentais próprias que se somam ao bem comum da sociedade.

É importante que estas informações facilitem uma discussão menos ideológica. Simpatias ou preconceitos à parte, cabe, principalmente a professores, líderes e pais, minimizarem o grande sofrimento gerado pelas surpreendentes estatísticas apresentadas.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 
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SOBRE OS PSICOTRÓPICOS
Há vários conceitos equivocados sobre as medicações usadas para tratar os transtornos mentais. Há quem pense que podem viciar, que utilizá-las é sinal de fraqueza, de falta de força de vontade ou de fé. Há ainda os que querem fazer uso eventual de um antidepressivo, apenas no dia e na hora em que estiverem se sentido mal...

Com algumas exceções (como os “calmantes” que citaremos abaixo) as medicações psiquiátricas (antidepressivos, anticompulsivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor...) devem ser usados de forma contínua para o tratamento de determinadas doenças, tal qual se usa anti-hipertensivos para tratamento da pressão alta. Não são “faixa preta” e não viciam. São usados diariamente, pelo tempo necessário para o reequilíbrio das funções cerebrais.

A pessoa que é acometida por alguma doença psiquiátrica não é culpada, assim como o hipertenso deve se esforçar para lidar com a pressão arterial da melhor forma possível, sem se culpar por estar doente, fazendo o tratamento pelo tempo indicado pelo médico. Normalmente desencadeadas por um estressor, mas não causadas por ele, as doenças psiquiátricas são específicas, com história clínica e funcionamento bem conhecidos. As modalidades de tratamento são várias, de psicoterapias a dietas e medicações.

Na prática, o psicofarmacologista moderno dispõe de grande leque de fármacos. Em 1980 havia uma única medicação aprovada para doença a bipolar, o lítio. Em 2010, já eram dezenas. O famoso “Prozac” surgiu também na década de 80 e, depois dele, pelo menos 3 dezenas de antidepressivos tornaram-se acessíveis. Diante disso, realmente é possível tratamento eficaz e de baixo risco das alterações da mente, que merece ser tratada e cuidada.

Já os famosos “calmantes” não tratam as doenças propriamente ditas. Eles aliviam os sintomas, agem como “analgésicos” da angústia. Têm indicação quando os sintomas estão ativos e gerando sofrimento, até que a medicação principal faça seu efeito. Quando o efeito é alcançado, o “calmante” pode e deve ser suspenso, antes do surgimento de alguma dependência.

Antigamente, quando havia poucas medicações terapêuticas disponíveis, muitos pacientes eram mantidos por longo tempo em uso de calmantes (“analgésicos”) para alívio de sintomas, e não recebiam tratamentos “curativos”. Ficavam dependentes do tratamento e não deixavam de apresentar os sintomas. Logo, em razão dessas antigas situações, que não mais ocorrem, ainda hoje as medicações psiquiátricas sofrem preconceito indevido.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 
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ENTENDENDO A FOBIA SOCIAL
Esta doença caracteriza-se por uma intensa ansiedade que surge quando o paciente é submetido à avaliação de outras pessoas. Sua característica essencial é o medo acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho nas quais o medo tem intensidade suficiente para gerar sofrimento ou prejuízo.
Geralmente, o portador desse transtorno percebe que seu medo é exagerado, mas não consegue vencê-lo sozinho, sem o auxílio de tratamento. As pessoas ao redor podem não perceber o sofrimento do fóbico, menosprezando seu sintoma.

As situações temidas pelo fóbico são situações do dia-a-dia como dirigir ou alimentar-se na frente de pessoas. O medo de se expor e do julgamento de outrem gera todos os sintomas físicos e psicológicos relativos a um "ataque de medo", como num ataque de pânico.

Normalmente, o transtorno inicia-se na infância e as vítimas, normalmente, procuram ajuda na vida adulta após uma vida de sofrimentos. Se prestarem atenção, pais e professores poderão reconhecer a fobia social nas crianças, através de sintomas como a criança que evita festas, se recusa a interagir com outras crianças da mesma idade, tem poucos amigos e se esconde das visitas. Para o diagnóstico na infância é importante não apenas a observação como é necessário o manejo do "bullying" que muito facilmente pode gerar uma criança insegura e fóbica.

Uma pessoa tímida, apesar de certa dificuldade, costuma enfrentar seus problemas. Não tem o medo de se expor, apenas tem menor vontade de se sociabilizar ou menor "traquejo" social. Participa de entrevistas de emprego, não é solitária e não foge de situações sociais, sem prejuízos para a sua vida. Já o fóbico social se isola, mesmo que tenha carisma e capacidade social. Por exemplo, pode não conseguir exercer a sua profissão ou frequentar aulas em que tenha que se apresentar publicamente aos seus pares.
Em um momento de extrema tensão, o fóbico social poderá apresentar manifestações como ansiedade, taquicardia, tremores, diarreia, dor de barriga e rubor facial (talvez o mais aparente sintoma). Além disso, a pessoa se avaliará negativamente, com uma gama de pensamentos negativos que lhe rebaixam a autoestima e provocam esquecimentos daquilo que irá falar. Aí, o medo de se expor se materializa...

Essas dificuldades fazem com que o fóbico social, que pode perfazer até 10 % da população, tenha mais chance de sofrer de depressão ou alcoolismo, até pela tentativa de "medicar" a timidez com o álcool. O tratamento baseia-se no uso de medicações que revertem os sintomas em uso continuado, ao ajustarem certos neurotransmissores cerebrais. Também pode se usar medicações para aliviar o sofrimento momentâneo e os sintomas físicos como o rubor e o tremor, visto que, sem esses sintomas físicos, a chance de se expor e ficar inseguro diminui. É importante a psicoterapia que ajuda o paciente a lidar com suas dificuldades e desconstruir seus medos. A abordagem mais testada e aprovada é a terapia cognitivo- comportamental que, através da abordagem das crenças do paciente (seu cognitivo), consegue mudar sua expressão emocional (medo).
Os ganhos com o tratamento serão limitados se o tratamento for iniciado tardiamente, porque a aprendizagem, pelo paciente, do "traquejo" social que ocorre desde a infância, pode estar comprometida. Se a fobia social é tratada corretamente, a chance de recuperação é de 70% a 90%. E, quanto mais cedo for diagnosticada, maiores serão as chances de cura e readaptação do paciente à vida social.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 
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Geriatria: o que trata esta especialidade médica?
Os objetivos da medicina geriátrica são a prevenção e o tratamento das doenças próprias do indivíduo que envelhece, aliados à busca da autonomia e da máxima funcionalidade. Daí ser fundamental estabelecer os limites entre o envelhecimento normal e o que deve ser considerado como enfermidade. Entende-se como autonomia a capacidade individual de se decidir e gerir a própria vida, enquanto a funcionalidade diz respeito à capacidade de executarmos as tarefas de vida diária, sejam elas as mais elementares ou as mais complexas.

A rigor, não há idade que delimite o início do envelhecimento, uma vez que este processo é intrínseco e individual; entretanto, boa parte das alterações indicativas de redução da reserva funcional biológica, do “desgaste orgânico”, ocorrem a partir da terceira década de vida. A despeito desse fenômeno, universal a todas as formas de vida, isso não implica necessariamente na ocorrência de doenças. Basta observar o progressivo aumento na expectativa de vida da espécie humana em todo o planeta, que aliado a redução da natalidade, transforma progressivamente o perfil de nossa população. É cada vez maior o contingente de pessoas com oitenta anos ou mais – que é o que mais cresce em nossa sociedade – em sua maioria saudável, produtivo e dono do próprio destino.

Em contrapartida, cresce também a ocorrência das doenças degenerativas, próprias de quem envelhece, que não nos coloca em risco iminente de morte, porém podem afetar nossa qualidade de vida. Exemplos mais comuns são as doenças cerebrais (demências de Alzheimer e outras, doença de Parkinson e as sequelas dos AVCs ou “derrames”), doenças cardiovasculares (hipertensão, insuficiência cardíaca, insuficiência coronariana, doenças circulatórias periféricas), doenças pulmonares (doença pulmonar obstrutiva crônica), doenças digestivas (refluxo gastroesofágico, doença diverticular e polipose do cólon), doenças das vias urinárias (infecções de repetição, incontinência urinária, hipertrofia prostática), doenças ósseas e articulares (osteoporose, osteoartrose), doenças metabólicas (elevação do colesterol, diabetes, hipotireoidismo, osteomalácia), doenças dos sentidos (catarata, glaucoma, surdez), doenças psiquiátricas (depressão, ansiedade) e as doenças neoplásicas ou cânceres (da mama, da tireoide, digestivos e de próstata).

Vale lembrar que a apresentação dos sintomas em idosos nem sempre é aquela conhecida em adultos jovens, o que pode dificultar ou retardar o diagnóstico de condições agudas que exigem tratamento mais imediato. Como exemplo, não é raro um idoso previamente saudável desenvolver uma doença infecciosa aguda e apresentar-se, em algumas horas, delirante, confuso, desidratado e sem febre. Noutra vertente, alguns sintomas, sinais e alterações laboratoriais que em jovens podem ser considerados importantes, quando presentes nos mais velhos podem fazer parte do processo natural da senescência e não exigem qualquer intervenção.

Outro importante papel da Geriatria é gerenciar o tratamento do paciente idoso, especialmente do mais frágil, que frequentemente é usuário de diversos medicamentos e apresenta limitações no autocuidado. Risco de quedas, instabilidade postural, perda involuntária de urina e acamamento excessivo são importantes sinais de alerta. Nesse caso, ajuste das doses das medicações, suspensão de tratamentos não prioritários e organização da reabilitação físico-funcional passam a ser a prioridade. Muitos dos idosos frágeis necessitarão, em algum momento, apenas do conforto do cuidado paliativo, quando familiares e profissionais que cuidam passarão a desejar nada além de um tratamento digno e indolor para seus entes queridos e pacientes. A compreensão dos limites impostos pela natureza da doença e a certeza de que o sofrimento mínimo pode ser alcançado aliviam significativamente o sofrimento de todos os envolvidos.

O Médico Geriatra deve possuir formação mínima de quatro anos após o curso básico de Medicina, quando então estará habilitado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia a exercer a especialidade. É imprescindível que o geriatra tenha recebido treinamento básico em Clínica Médica por pelo menos dois anos, já que seu universo de ação não se restringe apenas a um aparelho ou sistema orgânico.
Assim, nesse século que se inicia de “cabelos brancos”, se inserem a Geriatria e a Gerontologia, destinadas a garantir uma velhice com qualidade, prazer e satisfação pessoal, a despeito de alguns inevitáveis constrangimentos que o passar dos anos possam trazer.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
 
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Brasil: o país do futuro envelheceu
O envelhecimento de uma população habitualmente é acompanhado de uma elevação da ocorrência de doenças crônicas e de um aumento do grau de dependência de seus componentes idosos. Isto acarreta, em diferentes situações, sofrimentos à própria pessoa que envelhece, aos seus cuidadores e familiares, bem como representa indiscutível aumento dos custos sociais que a sociedade indiretamente acaba por custear.

Diante de tais fatos, supõe-se que a manutenção da autonomia e da independência do contingente idoso deveria ser um dos primordiais interesses em qualquer nação minimamente organizada, onde o envelhecimento bem sucedido decorresse naturalmente de estratégias bem planejadas, cuja base estrutural fosse o compromisso do Estado e de organismos não governamentais com a manutenção da saúde de toda a população, em seus diversos níveis de atenção.

A adequada abordagem da questão social da velhice, por ora circunscrita aos profissionais que lidam diretamente com o indivíduo idoso, tornou-se tão emergencial que em bem pouco tempo se transformarão numa grave questão de saúde pública, anulando os parcos efeitos da filantropia religiosa, das iniciativas acadêmicas ou das numerosas e anônimas famílias que abrigam seus próprios velhos.

Curiosamente, este degredo social, a que poderíamos chamar este processo no qual nossos idosos se veem submetidos, é um fenômeno recente com o surgimento das sociedades industriais a partir do final do século XIX. Observamos que apenas nos grupamentos minoritários denominados primitivos os idosos ainda mantêm direitos especiais e continuam respeitados como depositários da sabedoria ou da memória grupal. A morte social precoce, decretada pelos povos industrializados aos seus componentes inativos, mal preparados ou improdutivos, vem clamorosamente incluindo nossos velhos neste sistema de substituição rotativa, impedindo-os de participação social efetiva, onde o descenso e a incapacidade financeira são o triste resultado final.

Em contrapartida, as antigas sociedades de caráter agrícola, cuja manutenção da propriedade e da administração do patrimônio cabiam aos mais velhos, rapidamente perderam seu espaço desde a Revolução Industrial, vindo a agonizar no Terceiro Mundo ao final do século XX, levando em seu bojo, em direção ao esquecimento, o importante papel que o velho possuía na sociedade tradicional.

Visto isso, cabe ressaltar alguns aspectos de grande importância no contexto brasileiro:

a) a partir da década de 40, erupção da industrialização brasileira de base; emerge no Brasil um modelo de sociedade urbano-industrial, quando aproximadamente 70% da população ainda viviam na zona rural e a expectativa de vida ao nascer era apenas de 45 anos;

b) iniciam-se as migrações internas em busca de trabalho assalariado e regulamentado nas cidades do sudeste, determinando o surgimento de uma população idosa rural remanescente e miserável, bem como o de outra população também idosa, porém migrante e em meio urbano hostil. Em ambas situações o vínculo idoso-família rompeu-se por simples distanciamento geográfico ou por ruptura afetiva e sensorial entre familiares, empenhados agora no projeto individual-capitalista de vida ;

c) progressivamente vem ocorrendo aumento da expectativa de vida ao nascer, vinculada á redução da taxa de mortalidade precoce, o que propiciará níveis similares aos dos países desenvolvidos logo no início deste século; abruptamente vem despencando a taxa de fecundidade desde o início dos anos 70 do século XX, que será 50% menor até o ano 2025 é uma das mais aceleradas transições demográficas da história da humanidade;

d) entre 1950 e 2025 a população brasileira com mais de 60 anos crescerá mais de 15 vezes (o dobro da população geral), tendo aumentado 105% apenas nas duas últimas décadas do século XX;

e) em 2025 seremos o país mais velho do continente, com cerca de 15% da população composta por idosos ( a propósito, hoje, 50% da população mundial com mais de 60 anos está distribuída pelo Terceiro Mundo);

f) os benefícios da aposentadoria por idade são insuficientes, destinados a indivíduos cuja vitalidade biológica é declinante e para os quais resta complementar suas rendas com subempregos e biscates, atividades que normalmente não levam em conta a aptidão ou experiência acumuladas ao longo dos anos.

Assim, é imprescindível que se fortaleçam, de imediato, as políticas públicas específicas para a população idosa, sob pena de nos depararmos, num tempo próximo, com uma legião de velhos desamparados, desassistidos e facilmente visíveis, por absoluta falta de preparo social para recebê-los.

Acreditamos que as soluções mais consistentes passem cada vez menos pelas iniciativas de modelo assistencialistas e mais pela educação social para o envelhecimento: escolas em todos os níveis, sindicatos, governos, sociedades de classes, empresas públicas e da iniciativa privada, meios de comunicação - todos têm uma grande contribuição a dar. Sem perder a perspectiva do trabalho individual de conscientização, devemos nos empenhar em desmistificar o papel da família como única responsável pelo suporte de seu membro idoso, priorizando ações institucionais mais amplas e trazendo o próprio indivíduo que envelhece para assumir um papel mais ativo na garantia de seus direitos como cidadão.

A educação para o envelhecimento, contínua, pode transformar a tradicional visão de respeito piedoso ao idoso, que lhe outorga o "merecido descanso", e instaurar o respeito pela via da reciclagem, de recuperação da autonomia e da manutenção da produtividade dos veteranos. Enfim, o país do futuro já não é mais tão jovem.


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Exercícios físicos na idade adulta: por que praticar?
Cena 1: Manhã ensolarada. Homem seminu avista o antílope pastando distraidamente e dá sinais de sua presença aos outros homens que já estão devidamente preparados, empunhando cada um sua lança pontiaguda. Todos salivam, respiram apressadamente e aguardam apenas o sinal de ataque do líder. A corrida é intensa, longa e exaustiva.

Cena 2 : Todos saboreiam a carne tostada em torno da grande fogueira. Celebram a saciedade depois da grande caçada. Uma enorme carcaça fumegante atravessará aquela noite e mais ninguém se incomodará, por alguns dias, com os chamados da fome.

Cena 3 : Domingo após o almoço, alto verão, celular desligado. Homem seminu ajeita a calça do pijama, abre a geladeira e apanha a latinha no congelador. Ao passar diante do espelho se vê refletido, tenta encolher a barriga sem sucesso, dá-lhe dois tapinhas e logo dela se esquece na cuidadosa função de picar o salaminho. Liga o controle remoto da TV, desliga a si próprio e dorme o resto da tarde no sofá.

Cena 4 : Todos salivam em fila, impacientes e hipnotizados, aguardando sua vez de escolher. Domingo já é noite. Homem faminto, agora vestido e de pé, observa o grande painel de fotos de sanduíches à sua frente. Todos fazem suas escolhas, muito sérios e criteriosos, não sem antes reservarem um sorvete, à guisa de sobremesa. Repasto terminado, entram todos em seus automóveis e voltam para casa, repletos de calorias.

Desde tempos imemoriais fomos formatados geneticamente para acumular reservas calóricas; afinal, nunca poderíamos saber quando estariam disponíveis os vegetais que colhíamos ou os animais que caçávamos. Nossa intensa atividade corporal, desde o raiar do dia, servia apenas à nossa sobrevivência. Entretanto, mesmo com o passar dos séculos e nossa progressiva instrumentalização, nosso organismo em nada se modificou. Ele havia aprendido a armazenar, armazenar e gastar depois. Resultado? Passamos a nos tornar cada vez mais sedentários, gastando menos energia, acumulando gorduras e problemas.

Tempos modernos, a mesma tecnologia que nos permite alcançar a pizza mais próxima sem sair do lugar, subir oitenta degraus sem dar um único passo, estranhamente nos oferecerá potentes remédios que desobstruirão nossas coronárias ou, se necessitarmos, cortes precisos que devolverão às nossas coronárias algum fluxo de sangue. Contudo, vasto mundo que dá voltas e volta: a Organização Mundial de Saúde recentemente propõe que as mudanças nos hábitos de vida são, de longe, as medidas de prevenção primária mais eficazes na redução da mortalidade geral e, em especial, das mortes causadas pelas doenças cardiovasculares. E, dentre estas medidas, está o exercício físico regular.

Muito bem, doutor. Estou convencido, mas como eu devo me exercitar?

Bem, para que o exercício seja eficaz, podemos utilizar as recomendações da Associação Americana de Medicina Esportiva, que basicamente preconizam:

1. Exercícios do tipo aeróbico (caminhada, natação, hidroginástica, bicicleta, trote) de preferência precedidos por avaliação médica (para os que têm mais de 40 anos ou alguma doença cardiorrespiratória);

2. Frequência mínima de três dias na semana, se possível intercalados;

3. Um gasto mínimo de 300 calorias por sessão de exercício. Uma caminhada em que se percorra 6 km em 1 hora atinge este objetivo;

O ideal é que adultos sedentários sejam orientados individualmente, reavaliados em períodos regulares e que tenham seus programas de exercícios sempre modificados. Certamente haverá ganho crescente de performance, motivação para a vida esportiva, recuperação da auto estima e eliminação consistente dos fatores de risco modificáveis.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
 
 
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Fadiga crônica em adultos
Quem já não experimentou aquele cansaço logo pela manhã e pensou que a cama seria o melhor lugar do mundo para passar o dia? Sensação absolutamente trivial e esperada nesses tempos de pressa, em que um silencioso relógio nos comanda e onde nosso corpo às vezes dá sinais de fadiga, pedindo um tempo maior de repouso.

Entretanto, o que dizer desse sintoma se ele nos acompanhar a maior parte do tempo, transformando nossos dias em pesados fardos a carregar, fazendo do sofá nosso lazer predileto?

Uma pesquisa estadunidense revelou em 2000 que a sensação de fadiga é a nona queixa mais comum entre adultos que procuram médicos; outro estudo, britânico, encontrou fadiga excessiva em 38% dos entrevistados numa amostra de 15.000 pessoas. Há evidências de que as mulheres são mais suscetíveis que os homens nesse caso, algo em torno de 28 versus 19%.

O curioso desta queixa é que a maioria dos indivíduos se julgam portadores de alguma causa orgânica, como anemia ou câncer, por exemplo, enquanto seus médicos tendem a atribuir a um fator funcional e transitório a causa do sintoma. Isso acontece porque as estatísticas médicas têm demonstrado que mais de um terço dos exames laboratoriais e clínicos resultam normais e que boa parte dos queixosos, algo em torno de 80%, demonstram sinais de ansiedade ou depressão em testes psicométricos. Diante disso, como deveríamos nos comportar?

Inicialmente, é fundamental que a queixa real seja bem definida e que o médico desenvolva um minucioso interrogatório acerca dos sintomas. Dados como doenças em curso, perfil psicológico, climatério, uso de determinados medicamentos, gestação ou cirurgias recentes, transtornos de sono, hábitos alimentares, excessos de atividade física, estresse, ambiente familiar, uso de álcool e drogas, febre, emagrecimento não podem ser omitidos. Em seguida, um exame físico cuidadoso deve acompanhar a entrevista. Provavelmente assim o médico alcançará o diagnóstico, mesmo na presença de outras doenças previamente existentes.

A realização de exames complementares, na fadiga crônica, geralmente fica condicionada ao posterior seguimento do paciente, já que o tratamento médico é iniciado logo num primeiro momento, especialmente se o rastreamento para ansiedade e depressão for positivo na primeira consulta. Acompanhamento clínico criterioso, confiança mútua e reavaliações periódicas geralmente permitem a resolução do problema. Na eventualidade de persistência das queixas de fadiga e cansaço crônicos, alterações metabólicas (tireoideanas, glicêmicas, do cálcio, eletrolíticas) devem ser investigadas, bem como as funções do fígado e rins, por exemplo.

Sintomas de cansaço e indisposição crônicos, superiores a seis meses e sob seguimento médico regular, devem alertar sobre a possibilidade da síndrome da fadiga crônica. Diferentemente de um simples “desânimo”, nesta síndrome há importante redução da capacidade física, de forma objetiva. Seu diagnóstico obedece a determinados critérios e alguns sinais e sintomas clínicos o médico poderá constatar. Há tratamento bem estabelecido atualmente.

Enfim, vale lembrar que falta de energia e sentimento de preguiça persistentes são péssimos companheiros nesses tempos de pressa. O trânsito que não anda, a agenda apertada ou um travesseiro muito antigo podem até servir de desculpas para nossos sintomas, porém não custa desconfiar delas.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna

 
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Medicamentos em excesso: todo cuidado é pouco
O que a morte dos cantores Michael Jackson e Prince e o surgimento da chamada superbactéria KPC têm em comum? Ambas notícias, óbvio, a princípio não se relacionam. Entretanto, uma observação cuidadosa deixa claro que estes dois fatos que movimentaram insistentemente os meios de comunicação e a opinião pública estão relacionados ao uso e abuso de medicamentos.

No primeiro caso, uma medicação anestésica, cujo uso é restrito ao ambiente hospitalar e por via endovenosa, vinha sendo usada pelo astro em sua própria casa para combater uma insônia crônica e provavelmente o levou à morte. No caso da superbactéria, que nada mais é que uma velha conhecida que foi exposta excessivamente aos antibióticos, ocorreu uma mutação e a Klebsiella passou a produzir uma enzima (carbapenemase) que a tornou resistente à maioria dos antimicrobianos em uso. Nos dois episódios houve abuso, indiscutivelmente.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – decretou normas relativas à prescrição e dispensação de medicamentos “controlados” (calmantes, antidepressivos, neurolépticos) e de antibióticos. O objetivo principal da medida é a racionalização do uso ou, em outras palavras, o uso desses medicamentos pelo tempo e doses adequados, sob estreita vigilância do médico que os prescreve. Afinal, quem nunca usou aquele remedinho que a vizinha disse que é tiro e queda para uma suposta gripe ou aquele da faixa preta para pegar no sono, sem saber exatamente a causa de seus sintomas?

Há evidências, por meio de grandes pesquisas mundiais, que o abuso de medicamentos psicotrópicos (aqueles que agem no psiquismo) já supera o uso de cocaína, heroína e ecstasy somados. Os analgésicos derivados da morfina, chamados opióides, os tranquilizantes e os estimulantes são os mais utilizados e, curiosamente, dependem da receita médica que fica retida na farmácia. Mas, então, como eles são adquiridos? Por incrível que pareça, ainda no balcão de algumas farmácias, importados de nossos vizinhos paraguaios e até pela internet. No caso dos antibióticos, a situação era ainda pior: bastava ir a determinadas farmácias inescrupulosas, apresentar uma queixa supostamente de origem infecciosa para receber, entre infalíveis analgésicos e anti-inflamatórios, uma caixa de antibióticos.

Além dos riscos do uso indiscriminado destas duas classes de fármacos, existe sempre a probabilidade de um efeito adverso ou efeito colateral para qualquer medicação que se utilize, mesmo que o indivíduo tenha sido corretamente avaliado e diagnosticado pelo médico. Os efeitos adversos a medicamentos normalmente são previstos e previamente conhecidos pelos profissionais e pela indústria; todavia, ao serem utilizados em associação a outros princípios ativos acontece a chamada interação medicamentosa, às vezes inesperada. Este fenômeno é explicável, uma vez que a mesma enzima que metaboliza e transforma a medicação A pode estar envolvida, naquele momento, na metabolização da medicação B, fazendo com que uma delas tenha sua concentração aumentada ou reduzida no sangue. Assim, não fica claro que é importante que se conheça um pouco de farmacologia e fisiologia humana para se prescrever remédios? Fica claro também que apenas ao médico cabe fazê-lo, o único profissional habilitado para fazer diagnósticos, propor tratamento e, por consequência, responder pelos resultados.

Bem vindas, portanto, as medidas sanitárias de controle sobre a venda de medicamentos. Enfim, remediar, atenuar com remédio o mal ou a dor, envolve algumas importantes etapas. Exige conhecimento apropriado.

Logo, a persistirem os sintomas, um médico deverá ser consultado. Antes, bem antes que o colega te ofereça o comprimidinho salvador ou o galã da novela te induza a correr à farmácia mais próxima.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna

 
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Meu corpo todo dói...é a idade
Queixa muito frequente entre idosos, a “dor no corpo” sempre é um desafio ao diagnóstico. E, ao mesmo tempo, um desafio para quem, dia após dia, convive com o desconforto de um sintoma incômodo, desprazeroso e, quando prolongado, degradante.

O perfil do portador de dor corporal crônica sem tratamento adequado é o daquele indivíduo entristecido, de “mal com a vida”, sempre desanimado, preso à casa, cujos dias giram em torno de consultórios médicos, novas receitas, novos exames. Ao ser interpelado, diz que já não aguenta mais, que o sono é ruim, que se alimenta pouco, que as pessoas já o evitam e até desacreditam em suas queixas; afinal, dor não é medida, não é aparente...

Mas, afinal, o que causa a dor crônica nos mais velhos?

Para facilitar o entendimento, podemos é dividir as causas desse problema entre as ortopédicas, reumatológicas e neurológicas. As dores dos dois primeiros grupos, quando crônicas, dificilmente escapam ao diagnóstico médico, dado o relativo bom arsenal de exames de que dispomos atualmente e, principalmente, à progressão das próprias doenças que, no caso, evoluem, “aparecem” em algum momento. Já as de origem neurológica exigem maior apuro na avaliação e comumente são atribuídas à idade avançada. Um erro comum: tornar-se mais velho não significa ficar doente ou conviver obrigatoriamente com dores. Por último, há o segmento dos transtornos emocionais que muitas vezes manifestam seus sintomas na forma de um componente difuso, vago e não menos desconfortável.

Das doenças ortopédicas dolorosas, entre os mais velhos, a mais comum é a osteoartrite (osteoartrose ) degenerativa. Trata-se de uma doença crônica que acomete as articulações, especialmente das mãos, ombros, quadris, coluna vertebral e joelhos, causada pela progressiva perda de tecido cartilaginoso nessas juntas. Ao mesmo tempo, formam-se deformidades ósseas chamadas osteófitos (os famosos bicos de papagaio) e o espaço de mobilização dentro da articulação se reduz. Com a atrofia dos músculos das regiões afetadas (muito frequente em idosos e sedentários) a mobilização dos membros piora, qualquer tentativa de movimento é dolorosa e forma-se, então, um círculo vicioso. Infelizmente, muitos idosos convivem com dor, perdem sua independência e demonstram elevado risco de queda em virtude desse processo. É fundamental a reabilitação física (exercícios orientados, fisioterapia) e o uso de medicamentos específicos.

Outra doença ortopédica “famosa” é a osteoporose, cujo nome se confunde com a anterior, mas que excepcionalmente causa dor. Osteoporose dói quando há fratura, esta sim dolorosa. E quando o osso se parte por causa da osteoporose certamente ela já avançou muito e teremos que cuidar muito bem do portador. Afinal, até aquele momento ela esteve silenciosa, provocou uma enorme perda de massa óssea e numa simples queda, numa fratura do fêmur, a vida deste indivíduo pode mudar: cirurgia, imobilização prolongada e suas complicações, sequelas, medo de cair novamente, perda da independência... Logo, nada como preveni-la (a palavra- chave da medicina) e quando ela já existir tratar efetivamente, com medicação combinada à dieta, suplementação mineral e mobilização orientada.

Falando das doenças reumatológicas, as mais prevalentes entre idosos são a artrite reumatóide (que pode iniciar antes, entre os 30 e 50 anos) e a polimialgia reumática. Muitas vezes elas causam dor, grande limitação e seus portadores não recebem tratamento adequado, pois não ainda não têm diagnóstico. É relativamente comum que estes indivíduos usem anti-inflamatórios e analgésicos por longo período. Quanto às demais doenças desse grupo, geralmente elas já foram descobertas numa idade mais jovem em que os sinais são mais exuberantes e já estão sendo tratadas.

A chamada dor neuropática, entre os de mais idade, faz parte do grupo daquelas de origem neurológica. Pode ocorrer sem que se perceba nenhum dano aparente a órgão ou tecido, como na neuralgia do nervo trigêmio ou naquela causada pelo diabetes. Noutros casos tem uma base anatômica mais clara, como é o caso do herpes zoster, das dores ciáticas, dos tumores, dos traumatismos, por exemplo. O que verdadeiramente ocorre é uma disfunção das vias que transmitem a dor, um “curto-circuito” das linhas de transmissão, ocasionando um estímulo doloroso incessante. E, por essa razão, é uma dor muito angustiante. Seu diagnóstico exige uma investigação clínica ampla, buscando a causa, a fim de que não se perca a oportunidade de tratar e até mesmo de eliminar os sintomas.

Finalmente, vale a pena falar um pouco sobre a fibromialgia, que provoca um sintoma doloroso não tão intenso, mas o suficiente para que o paciente busque ajuda médica. Trata-se de uma condição que gera verdadeira peregrinação do seu portador aos mais variados especialistas, uma vez que não provoca alterações em exames laboratorias ou de imagem. O paciente, diante disso, passa a duvidar do médico ou da incapacidade dos exames em detectarem seu problema. A fibromialgia piora com a tensão emocional e, geralmente, vem acompanhada de um sono de má qualidade, sentimentos de tristeza, menos-valia e sensação de incapacidade para o trabalho ou lazer. Pode melhorar muito com medicação psicoativa e analgésica específica, além de psicoterapia e terapias corporais.

Portanto, fica claro que a dor crônica, especialmente entre os mais velhos, não tem uma apresentação tão bem definida como nos mais jovens. Uma história detalhada dos sintomas, das doenças prévias e um exame físico cuidadoso são imprescindíveis para a identificação da sua causa e, por consequência, do tratamento bem sucedido.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
 
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Ando me esquecendo de tudo... Será minha memória?
Provavelmente você já se questionou, em algum momento de sua vida, por que vem se “esquecendo de tudo”. É até possível que tenha se preocupado porque viu determinado filme que você adorou e não se lembra mais o nome do ator principal ou porque acabou de ler agora mesmo um texto e precisou lê-lo novamente pois o havia “esquecido”. Se você já tiver passado dos quarenta, cinquenta anos, deve ficar impressionado como aquele seu vizinho adolescente é capaz de decorar, inteira, aquela música horrível, enquanto você sua a camisa nas aulinhas de alemão, se achando incapaz de aprender um novo idioma.

Pois bem, nada de anormal com sua memória se você se identificou com a leitura até aqui, ainda mais se você disser que tornou-se mais exigente com o que lê ou vê, se seu juízo crítico se apurou com os anos ou que sua capacidade de “ver as coisas” melhorou com o passar dos anos. A isso chamamos amadurecimento.

Nas décadas iniciais da vida, nosso cérebro em formação, ávido de estímulos e informações novas, desenvolve a memória fluida. Como uma esponja, nela é relevante a quantidade de informações acumuladas, muitas vezes sem critérios de filtragem. Todavia, a partir da terceira década de vida, desenvolvemos a memória cristalizada, que cresce infinitamente e reflete a qualidade da informação. Tudo que for irrelevante para você (números, trajetos, nomes, imagens) será apagado ou resgatado com alguma dificuldade do sótão de sua memória, bem como pessoas, coisas e lugares com os quais você pouco convive, ainda que tenham sido importantes em algum momento de sua vida.

Também é importante entender que se anotamos um endereço, vamos até nosso destino e lá nunca mais retornamos, dificilmente seremos capazes de nos lembrar, alguns anos depois, detalhes do local visitado: afinal esta é a memória de curto prazo, que é basicamente dependente de informações sonoras, visuais e espaciais. Com ela trabalhamos nossos interesses imediatos ou circunstanciais. Em paralelo, ao aprendermos andar de bicicleta, conduzir um automóvel ou preparar uma refeição, nunca mais esqueceremos, pois entrou em ação uma das memórias de longo prazo, indispensáveis à nossa independência, que é a memória práxica (ou implícita). Da mesma forma, são imprescindíveis todos os nossos conhecimentos e informações, adquiridos ao longo da vida (memória semântica), bem como nossa história pessoal e do “estar no mundo” (memória episódica), fundamentais à nossa autonomia.

Assim, importa o essencial. A menos que nossa vida pessoal ou nossa vida de relação torne-se prejudicada por déficits cognitivos, o que mereceria avaliação médica, não deveríamos nos alarmar se perdemos as chaves da casa ou não identificamos um conhecido que nos saudou hoje na rua. Necessário, em contrapartida, é sentirmo-nos úteis, buscar incessantemente nosso enriquecimento intelectual e, de alguma maneira, contribuir para o desenvolvimento social.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
 
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Check up: sempre uma garantia de boa saúde?
Seguramente a resposta é não. Do inglês “to check up on”, examinar, pressupõe uma avaliação ampla do estado de saúde. Isso inclui uma cuidadosa entrevista clínica, exame físico minucioso, identificação de agravos atuais ou potenciais à saúde e, finalmente, medidas curativas ou preventivas.

Um check up, portanto, reflete o estado momentâneo da saúde do indivíduo, permitindo ao médico, na maioria das vezes, apenas estabelecer um prognóstico quanto às possibilidades futuras de adoecimento. Por outro lado, os riscos biológicos externos e os processos orgânicos de adoecimento são inúmeros e constantes, muitos deles imperceptíveis, mesmo às mais sofisticadas tecnologias. Daí, fica fácil entender que um check up normal não é garantia de proteção integral contra doenças, a menos que alguma delas possibilite sua identificação no momento da avaliação médica. Portanto, ao fumante que vai ao médico levando sua radiografia de tórax normal (o que ocorre na imensa maioria das vezes) ou à gordinha sedentária, filha de mãe diabética, com exame de glicemia normal, atenção: toda doença tem um tempo de latência sub clínica, de espera, até que os primeiros sintomas se manifestem ou que os exames se alterem.

A menos que mudemos nossos hábitos de vida e eliminemos os chamados fatores de risco, mais dia menos dia teremos o dissabor de sair do consultório médico com o diagnóstico de uma doença que o último check up não identificou. Aquela ginástica adiada, aqueles quilos a mais, o estresse desnecessário e o inútil cigarro, que até então não nos incomodavam, são cobradores silenciosos que chegam sem avisar, cobrando a dívida inteira, sem direito a parcelamento.

Assim, que tal começarmos pelo começo, prevenindo? Inicie uma atividade aeróbica pelo menos três vezes na semana, de uma hora de duração (caminhada, hidroginástica, dança, natação). Lá se vão pelo menos 900 calorias por semana! Comida? Elimine doces e açúcar e veja a diferença: como são saborosos os sucos, o cafezinho, que você nem sabia que tinham sabor próprio. Passe mais na peixaria e menos no açougue. Reduza o sal. Evite o desmatamento em seu prato. Beba o mínimo de álcool, se beber. Apague o cigarro antes que ele apague você! Tenha mais prazeres simples, que custem pouco e que te façam sorrir. Leia muito, ouça bastante e fale o suficiente. Cultive suas memórias e escute as memórias dos outros. Sinta-se útil e seja útil.

Ah, sim, o check up ? Faça-o uma vez ao ano, é recomendável, mas não se esqueça de que restarão longos 364 dias antes da próxima consulta.


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Um velho que cai: sinal vermelho
A queda entre os idosos talvez represente, na medicina, um dos mais flagrantes paradoxos entre a sua alta incidência e sua baixíssima notificação. Vale dizer que um terço dos velhos vivendo em comunidade cai a cada ano, enquanto a notícia deste evento (seja por esquecimento de quem caiu ou por absoluta omissão de quem pergunta) somente acontece quando a queda gera complicações que exigem hospitalização ou o óbito.

E por que é tão importante sabermos se a vovó caiu no último ano, já que ela está tão bem, anda para todos os lados, faz suas compras e até dança no coreto da praça? Bem, uma criança pequena cai diversas vezes durante seu período de desenvolvimento motor e adultos podem cair durante atividades esportivas ou desafiadoras. Todavia, se uma pessoa idosa cai facilmente, alguma perda funcional está ocorrendo e de forma silenciosa. Ainda que a maioria das quedas não resulte em lesões graves, 10 a 15% delas demandam assistência médica, sendo as fraturas dois terços destas lesões. E das fraturas que ocorrem nessa situação, a de quadril é a mais comum (25% delas) e a que tem consequências mais devastadoras: uma em cada quatro vítimas morre nos primeiros seis meses e 60% conviverão para sempre com incapacidades para as atividades habituais. Além das fraturas, as quedas provocam ainda os traumatismos cranianos, lacerações graves, hematomas extensos, entorses, etc.

Voltando à nossa vovó, coitada, ela não vai mais poder sair à rua, fazer o supermercado? Vai, sim. O que nos interessa aqui é valorizar a queda como um evento-alerta. A queda pode ser entendida como um sinal de alarma para algumas situações de risco ou para problemas já existentes e que nem sempre são perceptíveis à primeira vista. Para facilitar a compreensão, dividimos as causas das quedas em idosos em dois grupos:

1. Quedas por fatores externos ou extrínsecos: geralmente ocorrem no interior da própria residência ou arredores e são causadas por ambientes mal iluminados, camas muito elevadas ou mal posicionadas, objetos pelo chão, tapetes soltos, escadas, pisos irregulares ou escorregadios, entre outros;

2. Quedas por fatores internos ou intrínsecos: são aquelas decorrentes do próprio envelhecimento e que afetam a estabilidade postural. De modo geral, é o que o médico deveria investigar ao examinar o paciente que cai. Normalmente resultam da combinação de algum transtorno pré-existente, até então pouco significativo, a um evento que surge de forma inesperada. Para melhor entender como isso ocorre, imaginemos um velho com déficit visual causado pela catarata exposto subitamente à luminosidade intensa de um farol ou de uma janela. A perda momentânea dos seus parâmetros de localização espacial podem precipitar uma queda. Noutra situação mais grave, poderíamos encontrar um idoso que tem uma insuficiência cardíaca não diagnosticada, desenvolve uma infecção urinária e, por redução do fluxo de sangue cerebral nesta condição, perde a consciência e cai.

Em ambas situações, fica claro que o fundamental é sempre encarar a queda em idosos como evento sinalizador, indicativo de que algo mais sério pode estar acontecendo, além do caráter meramente acidental. A partir daí, uma investigação detalhada se impõe.
 

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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A velhice bem sucedida
Uma senhora de setenta e quatro anos entra sozinha no supermercado, apanha um carrinho e vai colocando nele os produtos que deseja. Observa e lê o rótulo de alguns deles, atentamente, e os compara aos seus similares da mesma prateleira. Depois de uma hora e meia de idas e vindas pelos corredores, encontra-se com uma conhecida e decide tomar um cafezinho. Ao final, vai até o caixa, ajuda a empacotar suas compras, confere a nota fiscal e emite o cheque de pagamento. Um pouco antes de sair, apanha seu telefone celular na bolsa e chama um taxi que possa levá-la até em casa.

Do outro lado da cidade, com extrema dificuldade, um senhor de sessenta e sete anos e vítima de acidente vascular cerebral tenta se sentar na cama para alcançar o copo d’água que se encontra sobre o criado-mudo. Após duas tentativas, desapontado, desiste e aciona uma campainha instalada na cabeceira da sua cama, quando então surge sua esposa e o atende, tentando interpretar seus gestos e sua fala pouco compreensível, em virtude do grave derrame.

Essas duas situações tão distintas, apesar de imaginárias, decerto são a realidade de boa parte dos nossos 22 milhões de idosos, desde a caatinga paraibana, passando por Ipanema ou favelas paulistanas e chegando até os mais bem situados velhinhos porto-alegrenses. São situações que podem estar acontecendo na casa do nosso vizinho ou até mesmo sob o nosso próprio teto neste momento, seja pela a presença de um idoso independente, autônomo, socialmente integrado, ou pela presença de alguém cujos últimos anos de vida não são mais que um pesado fardo de desesperança e dependência.

Enfim, clara está a perspectiva pela qual os gerontólogos devem olhar o fenômeno do envelhecimento humano no início deste novo século: funcionalidade. Nunca foi tão importante perguntarmos aos nossos “envelhecentes” se eles são capazes de. Eis que devemos escolher a melhor pergunta neste século de velhos: quantos anos tem a sua vida ou quanta vida tem em seus anos?

E, obtida a resposta, por que não tratarmos de garantir a autonomia máxima, a funcionalidade máxima e a independência máxima aos nossos cidadãos mais vividos? Afinal, em breve seremos velhos, do outro lado de uma falsa fronteira cronológica, a engrossar as estatísticas que tanto gostamos de elaborar.

Cabe-nos, em nossas mais variadas posições no mosaico social, facilitarmos uma inserção ativa de nossos idosos na sociedade, desvestindo as ações institucionais de sua roupagem paternalista e criando um novo ambiente de convívio com os cidadãos mais antigos, que certamente têm muito a contribuir, questionar e até modificar. Envelhecimento bem sucedido demonstra sociedade bem sucedida.


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
 
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Cuidadores Informais - tarefas tradicionais e novas ocupações
As estatísticas do IBGE informam que o número de idosos dobrou nos últimos 25 anos e a estimativa é que em 2025 seremos 23,5 milhões de pessoas com mais de 60 anos, representando 15% da população brasileira. Essa realidade é referente ao aumento da expectativa de vida, fruto das melhores condições de vida do desenvolvimento social e dos benefícios da evolução médica. O que ocorre é que, por mais que as pessoas estejam vivendo mais, continuam ocorrendo as eventuais dificuldades e necessidades especiais referentes ao envelhecer. Tradicionalmente cuidar dos idosos era e ainda é, em muitos casos, realizado nas famílias. No entanto, as mudanças sociais exigem a participação da mulher e demais membros produtivos da família no mercado de trabalho. Também tem ocorrido a diminuição do número de filhos por família e, estes fatores, geram uma não disponibilidade de parentes para cuidar dos idosos dependentes. Com isso as famílias começaram a buscar pessoas leigas (cuidadores) que se disponham a executar essas tarefas. Normalmente alguém na família assume a maior arte do cuidado com a ajuda do cuidador.. Como podemos nos adaptar para conviver com essa “nova” realidade social? Como adaptarmos para conviver com as diferentes demandas dos nossos entes queridos? A mulher, normalmente, assume a função de educar e cuidar devido ao seu papel natural de gerar, criar, nutrir e cuidar. E assim, é comum a mulher conservar a sua função no cuidado do idoso. Porém, dificilmente assume que é um cuidador, pois acha que cuidar de alguém que se ama não é uma tarefa, mas sim, algo natural. Ser um cuidador, entretanto, requer aprendizado e adaptação. Cuidador de idosos é uma profissão reconhecida e inserida na Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil com o Código 5162-10 (Cuidador de pessoas idosas e dependentes e Cuidador de idosos institucional). Esta capacitação também é exigida dos profissionais que trabalham em instituições que cuidam de idosos. O cuidador é peça fundamental na difícil tarefa de proporcionar um envelhecimento mais saudável e com menor sensação de desamparo. E, só o trabalho, só o ato de zelar, não faz um cuidador. É necessária a união do trabalho com a disponibilidade e capacidade de ouvir o outro, sem tirar do outro a capacidade de sentir-se com autonomia e independência.
 

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
 
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Insônia – quando se preocupar com ela?
Você já se sentiu solitário em sua cama, no meio da noite, com a nítida certeza de que todas as pessoas do mundo estão dormindo e que só você permanece acordado? E que ao se lembrar dos compromissos do dia seguinte suas preocupações ganham um tamanho enorme, indo e vindo a todo instante? E a sensação de fadiga, então, mesmo estando deitado há horas? Atribuímos a esse fenômeno chamado insônia, a incapacidade de iniciar ou manter o sono reparador, que nos assegura suficiente bem estar e estado de alerta no desempenho de nossas atividades diurnas. Apesar de ser um evento comum, geralmente não é diagnosticado ou tratado adequadamente. Há evidências de que apenas 5% dos portadores de insônia procuram serviços médicos em busca de alívio e que, estando na presença do médico por outros motivos, aproximadamente 70% das pessoas insones não relatam esta queixa. A insônia geralmente aparece no adulto jovem, é mais frequente em mulheres e geralmente tem uma evolução crônica, ao longo de anos. Quando não há uma causa aparente, como os transtornos mentais ou doenças clínicas, é chamada de insônia primária. Pode aparecer como dificuldade de pegar no sono – insônia de indução ou inicial – ou de manter o sono – insônia intermediária ou de manutenção. Habitualmente, como um fator precipitante não é identificado, é importante que fatores mantenedores sejam pesquisados, especialmente o estado de hiperalerta, a predileção por ficar acordado até mais tarde, o uso de cafeína e cigarros, prática de exercícios físicos vigorosos à noite, calor ambiental excessivo, ruídos, preocupações e uso de aparelhos eletrônicos. O despertar no meio da noite, em decorrência desses fatores, precipita a ativação do sistema nervoso simpático e, por consequência, a elevação da frequência cardíaca e da pressão arterial. O organismo se comporta como se fosse o momento de despertar, causando por vezes sintomas de desconforto físico. Lamentavelmente a insônia primária decorre de uma tensão somatizada, como se o corpo tivesse um condicionamento de despertar ao se deitar para dormir. Daí ser comum o indivíduo adormecer em situações monótonas, ao assistir TV, ao ler no sofá e perder o sono quando vai para a cama. É importante entender que a insônia, em outras situações médicas, deve ser encarada com um sintoma. Por isso ela passa a ser chamada de insônia secundária e normalmente decorre de doenças respiratórias, neurológicas, cardíacas, ortopédicas e psiquiátricas. Nessa condição é fundamental o diagnóstico médico correto, uma vez que o tratamento da doença de base alivia a insônia. A insônia não tratada pode levar a alterações do humor e a pequenos déficits cognitivos, como irritabilidade, redução do desempenho da memória, dificuldade de concentração e fadiga. Paralelamente, crescem os riscos de acidentes de trabalho, domésticos e de trânsito, bem como o consumo abusivo de álcool com finalidade indutora de sono. Considerando que a causa da insônia foi corretamente identificada e que possíveis doenças associadas estejam controladas, é possível ao médico se valer de tratamentos não farmacológicos, farmacológicos ou combinados. Entre os tratamentos não farmacológicos estão as terapias comportamentais (higiene do sono, controle de estímulos, restrição de tempo na cama, relaxamento por biofeedback), terapias cognitivas (reestruturação, intenção paradoxal) e fototerapia. Já em relação aos medicamentos, as opções atuais passam pelos sedativo-hipnóticos, antidepressivos com ação sedativa, fitoterápicos e melatonina. Importante mesmo é você estar atento e não admitir a insônia persistente como ocorrência normal. Vale a pena discutir com seu médico de confiança a melhor maneira de abordar o problema. 


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Câncer de próstata: não fuja deste toque!
Em algumas situações na medicina, a ignorância, antes da doença, é a principal causa de enfermidade e morte. O câncer de próstata, por exemplo, é uma grave doença que, diagnosticada precocemente, permite a cura em aproximadamente 90% dos casos. Entretanto, por que muitos homens ainda padecem com este tipo de tumor?
Como dissemos, ignorar a existência da doença – seja por falta da necessária informação, seja por descuido com a própria saúde – ainda é a principal causa de tanto sofrimento e de tamanha mortalidade pelo câncer de próstata. Hoje, no Brasil, segundo dados recentes do Instituto Nacional do Câncer (INCA), ele é responsável por um pouco mais de 20% de todos os cânceres que acometem homens.
Para se ter uma idéia da incidência deste tumor, três quartos dos casos de câncer de próstata acometem homens que passam dos 65 anos de idade; pelo menos metade daqueles que vivem 80 anos ou mais desenvolverão o tumor. Todavia, entre os octogenários, o câncer de próstata tem uma evolução bem menos agressiva e nem sempre dá pistas de sua presença.
Já entre os mais jovens, cuja expectativa de vida é mais longa, há suficiente tempo para que o tumor se manifeste; além disso, seu comportamento é mais agressivo em faixas etárias mais jovens. Vale lembrar que, a partir dos 50 anos de idade, 30% dos homens estão sujeitos a desenvolvê-lo.
Como a próstata é uma glândula anatomicamente muito próxima das vias urinárias masculinas, boa parte dos sintomas que o câncer de próstata produz é comum a outras doenças corriqueiras da glândula como a prostatite e a hipertrofia benigna. No primeiro caso ocorre uma inflamação dos tecidos glandulares e, na hipertrofia, um aumento do seu tamanho sem qualquer relação com o câncer.
Logo, a presença de alguns sintomas urinários merece avaliação médica, como aumento da frequência das micções, demora no esvaziamento da bexiga e sensação de micção incompleta; todavia, é bom ressaltar que, no início, o câncer de próstata não produz sintomas. Daí, a necessidade de exames preventivos regulares. Quando avançado, o tumor de próstata pode causar, além dos sintomas urinários descritos, dor óssea (provocada por metástases ósseas), perda de peso e infecções oportunísticas em função da queda da imunidade corporal.
Além do próprio envelhecimento, outro fator predisponente ao aparecimento do câncer de próstata é a existência de pai ou irmão com história de câncer de próstata antes dos 60 anos. Especula-se que dietas ricas em gordura animal e o sedentarismo aumentem o risco de desenvolvimento da doença.
E é possível prevenir?
Bem, atualmente os consensos científicos indicam que são imprescindíveis o exame clínico, através do toque retal, associado à dosagem no sangue do antígeno prostático específico (cuja sigla em inglês é conhecida como PSA) em determinados casos e a critério médico. Quando corretamente executados e combinados, eles deixam de diagnosticar a doença em menos de 5% dos indivíduos. Dependendo do resultado dessa avaliação, o médico pode indicar a ultrassonografia da próstata pela via retal e até mesmo a realização de biópsias da glândula, para estudo microscópico.
Enfim, prevenir ainda é o melhor remédio. 


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Subnutrição e adoecimento.
Há bem pouco tempo ainda ouvíamos dizer de adultos e crianças brasileiros que, por dificuldade de acesso a uma boa alimentação e às condições básicas de higiene, sofriam com o drama da desnutrição, das doenças infecciosas e da morte em idade precoce. À exceção de raros bolsões de miséria ainda persistentes, assistimos, felizmente, à progressiva melhoria destes indicadores sociais em nosso país.

Todavia, um grupo populacional ainda convive com a desnutrição e com suas danosas consequências, independente da classe econômica a que pertençam: a dos idosos frágeis. Trata-se de uma situação pouco investigada e, por consequência, identificada somente em situações de agravo brusco da saúde. A desnutrição ocorre em 40% dos idosos que vivem na comunidade e pode variar entre 20 e 60% daqueles institucionalizados. Um idoso dependente de cuidados constantes, por exemplo, confinado à sua residência e que adquira uma pneumonia, certamente exigirá tratamento mais prolongado que, muitas vezes, será menos eficiente pela coexistência do estado nutricional precário.

O aumento das necessidades nutricionais, a diminuição do apetite, a dor, a depressão e as alterações do nível de consciência, numa situação como a descrita, pioram o estado nutricional e provocam rápida perda de peso. Nessa etapa, ocorre o acamamento prolongado e o risco de complicações se eleva. Caso o paciente atinja a convalescença, dificilmente retornará ao seu estado anterior, agravando-se ainda mais o estado de dependência.

E quais seriam os requisitos essenciais ao se buscar uma dieta equilibrada, particularmente no grupo dos indivíduos mais velhos e adoecidos?

1. Adequado aporte de proteínas – as proteínas mantêm a estrutura muscular, nossas defesas corporais e a formação de diversas enzimas. É bom lembrar que a massa muscular se reduz 8 a 10% por década, a partir dos 40 anos, significando menor força para as atividades de vida diária.

2. Fornecimento correto de energia – apesar do gasto de energia se reduzir com o envelhecimento corporal, algo próximo a 150 quilocalorias por década, determinadas situações como doenças crônicas, fraturas e infecções exigirão maior consumo energético e perda do peso magro (músculos e ossos). Uma perda de peso de 5% em três anos praticamente dobra a taxa de mortalidade.

3. Reposição regular de micronutrientes – a ingestão diminuída, a redução da sua absorção intestinal e o uso de determinados medicamentos podem exigir a reposição de vitamina D, cálcio, zinco, selênio, ácido fólico e vitamina B12 em idosos debilitados. Aproximadamente metade dos idosos tem deficiência da vitamina D, que é fundamental na saúde óssea, força muscular, imunidade corporal, função cerebral e cardiovascular. A baixa exposição à luz solar também agrava esta situação. O cálcio é essencial na composição da massa óssea e na função neuromuscular. A dieta tradicional dos idosos quase sempre deixa a desejar na oferta deste elemento. Associam-se à ingestão insuficiente, a absorção reduzida no intestino, especialmente na deficiência associada da vitamina D. Num idoso frágil, sujeito a quedas, o consumo irregular de cálcio contribui para as tão temidas fraturas e suas consequências. Quanto ao zinco, selênio, ácido fólico e vitamina B12, estes são elementos essenciais na alimentação do indivíduo idoso, com funções importantes nos processos inflamatórios e cognitivos.

4. Ingestão diária de fibras – as fibras são primordiais no correto funcionamento intestinal e contribuem no controle de doenças cardiovasculares, diabetes e determinados tipos de câncer.
Logo, indivíduos mais velhos, sob risco iminente de adoecimento, não devem prescindir de correções regulares de seu estado nutricional.     


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Vacinação para adultos, jovens e idosos

Quando pensamos em vacinas, logo nos vem à cabeça a ideia de uma criança recém nascida ou na primeira infância, desprotegida e sujeita a diversas doenças transmissíveis. Faz sentido, já que as crianças de baixa idade, na primeira infância, ainda têm seu sistema de defesa – o sistema imunológico – incapaz de reagir aos agentes infecciosos mais comuns.

Entretanto, na vida adulta, mesmo estando mais capacitados a reagir a algumas doenças infecto-contagiosas, algumas delas devem merecer nossa atenção por serem muito comuns e por vezes graves. A boa notícia é que há meios de prevenção através das vacinas dirigidas a adultos jovens e adultos. Para melhor compreensão, vale a pena descrever cada uma delas:

1. Vacina contra o tétano – ela deve ser repetida a cada dez anos, indefinidamente, desde a infância, uma vez que estaremos expostos a essa grave doença todas as vezes que sofrermos ferimentos que provoquem ruptura da pele. E isso vai desde uma pequena perfuração a uma laceração mais extensa, pois o esporo do tétano penetra em nosso organismo a partir de ambientes e objetos de nosso cotidiano; quem nunca se vacinou ou não tem certeza de ter recebido a vacina deverá fazer uma vacinação básica de três doses.

2. Vacina contra a hepatite B – a rigor, todos deveriam receber a vacinação contra este tipo de hepatite que, em alguns casos, evolui para hepatite crônica e daí até mesmo para a cirrose e o câncer de fígado. A transmissão da hepatite B se dá por transfusão de sangue e, muito mais comumente, por via sexual; assim, a população-alvo para receber a vacina é aquela dos 12 aos 19 anos de idade, ou seja, iniciantes da vida sexual. É lógico que qualquer adulto pode também se imunizar, porém alguns grupos estão sob maior risco de adquirir a hepatite B, como profissionais da saúde, lixeiros, usuários de drogas intravenosas e profissionais do sexo, por exemplo. A vacinação é definitiva, não necessita de reforço. Sua eficácia é superior a 95%.

3. Vacina contra a gripe – essa vacina reduz o risco de morte em 50% e em 30% o índice de hospitalização entre idosos vítimas da influenza ou gripe. Pode ser utilizada também por adultos mais jovens e deve ser tomada sempre nos primeiros quatro meses do ano, uma vez que no inverno as pessoas permanecem mais tempo em ambientes fechados e o risco de contágio aumenta. Como o vírus é mutante, todo ano a vacina é renovada e deve ser reaplicada. A vacina não provoca gripe, como muitas pessoas acreditam; ela não contém vírus vivos. O que pode acontecer é a coincidência de um resfriado, outro tipo de vírus que estava em incubação, logo após a vacinação.

4. Vacina contra pneumonia – esta vacina é dirigida contra um tipo de bactéria chamada pneumococo, a mais comum entre as bactérias causadoras de pneumonia na comunidade. Ela protege contra 23 dos mais comuns tipos de pneumococo e, mesmo que a pneumonia ocorra, sua gravidade poderá ser menor. Deve ser administrada a partir dos 60 anos e repetida 5 anos depois.

5. Vacina contra a rubéola – aplicada em dose única, é dirigida especialmente às mulheres em idade fértil (a partir da adolescência), pois a rubéola é muito grave para fetos durante a gravidez, pelo risco de malformações.

6. Vacina contra a febre amarela – deve ser tomada por adultos e idosos a cada 10 anos, como a anti-tetânica, e é imprescindível para viajantes em regiões endêmicas da doença como o Centro-Oeste e a região Amazônica. É regulada por normas internacionais e pode ser exigida antes do embarque para determinados países. É bom lembrar que a proteção só se inicia 10 dias após a aplicação.

7. Vacina contra herpes zoster – apesar do custo elevado, é recomendada para adultos imunocompetentes a partir dos 50 anos de idade, em dose única. Estudos com a vacina mostram redução superior a 50% dos casos de zoster e de 67% para a neuralgia pós-herpética, condição dolorosa incapacitante e prolongada.
 

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Nem todo tremor é doença de Parkinson
Ao fazer esta afirmação, ao final da consulta, o médico poderá trazer de volta a tranquilidade de muitos de seus pacientes. Expliquemos melhor: o imaginário popular consagrou a associação entre o tremor, especialmente das extremidades das mãos, à doença de Parkinson. Portanto, se algum tipo de tremor ocorre, logo vem à mente do indivíduo afetado a lembrança de um caso dramático, geralmente mal sucedido, de algum portador dessa doença.

A medicina define o tremor como um fenômeno involuntário, resultante de um desequilíbrio entre as ações de músculos agonistas, que favorecem o movimento conhecido do membro, e dos músculos antagonistas, que impedem este mesmo movimento. O tremor pode ser percebido na ação – quando o indivíduo executa movimentos com o membro afetado – ou no repouso – quando o membro afetado está relaxado e inerte.

A partir desta distinção, um amplo leque de diagnósticos poderá explicar a razão do tremor, que engloba desde causas fisiológicas, normais, até doenças cerebrais mais graves que a própria doença de Parkinson, como tumores, lesões vasculares, doenças degenerativas e sequelas de traumas cranianos.

A boa notícia, que nós médicos gostamos de comunicar ao final da consulta, é que a grande maioria dos indivíduos que nos procuram em nossos consultórios são portadores de tremor fisiológico ou de tremor essencial. E como podemos identificá-los?

Bem, o tremor fisiológico é um tremor postural que todos temos e que pode ser desencadeado por emoção, exercícios físicos, cansaço muscular, ansiedade e febre. É um tremor transitório, mantido por curto período e dependente da ação do sistema nervoso simpático. Ele pode se prolongar como consequência de algumas doenças ou de situações anormais (hipertireoidismo, hipoglicemia e tumores das glândulas suprarrenais), com o uso de diversos medicamentos (remédios para a asma, por exemplo) e até com o abuso de café. Geralmente é perceptível nas mãos.

Já o tremor essencial é muito confundido com a doença de Parkinson porque tende a ser persistente e muito notado, pois também acomete as mãos. Contudo, pode envolver a voz, as pernas, a mandíbula, o tronco e a língua. Não é incapacitante nem progressivo. Ocorre em indivíduos jovens e idosos e não se acompanha da lentidão e da rigidez, típicas da doença de Parkinson. Parece ter caráter genético, mas pode nunca se manifestar. Outra característica curiosa é que ele se manifesta durante a realização do movimento, normalmente em ambos os lados do corpo, e piora quando o indivíduo se sente observado e está tenso. Pode desaparecer em alguns momentos do dia, como se nem existisse. O tremor essencial só deve ser tratado quando se torna incômodo ou causa constrangimento social, habitualmente com uma única medicação.

Ao nos depararmos com o desagradável fenômeno de tremores involuntários, portanto, é imprescindível a identificação do diagnóstico antes de nos angustiarmos com a expectativa de um curso desfavorável. E mesmo que uma síndrome parkinsoniana seja identificada, sua evolução clínica pode ser atenuada se precocemente abordada com medicação específica, medidas fisioterápicas e reabilitação física.


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Omeprazol, Ginkgo biloba... medicamentos não tão inocentes.
Em anos recentes temos assistido a implantação de normas mais rígidas na dispensação e venda de determinados grupos de medicamentos, notadamente daqueles que oferecem riscos de dependência e abuso. Assim, a aquisição deles se dá através de receituários especiais, onde consumidores, prescritores e farmácias são identificados.

Os tranquilizantes, por exemplo, farmacologicamente chamados benzodiazepínicos, são líderes mundiais de mercado da indústria farmacêutica e amplamente utilizados pela população, sem indicação muito precisa ou mesmo incorreta. Não é incomum nos depararmos com portadores de depressão, insônia crônica, dores diversas, transtornos de humor ou simplesmente tristeza, usando determinado calmante por anos a fio. A alegação dessas pessoas é que já não vivem mais sem ele ou que tomam um remédio fraco, que não lhes traz nenhum prejuízo. Puro engano: além dos riscos de disfunção cognitiva – dificuldades na apreensão de novas informações, por exemplo - próprios do uso prolongado de sedativos, adiam-se o diagnóstico correto e o alívio definitivo de determinados sintomas, erroneamente atribuídos à ansiedade. O mesmo raciocínio vale para a utilização indiscriminada de antibióticos, até então adquiridos sem avaliação médica prévia, hábito que produziu em todo mundo bactérias muito resistentes e de difícil controle.

Contudo, ficaram de fora da regulamentação, muito bem vinda por sinal, determinados fármacos que ainda têm venda livre e que, infelizmente, produzem efeitos indesejáveis quando utilizados sem critério clínico. Alguns deles são:

Omeprazol – esse potente inibidor da secreção ácida do estômago deve ser utilizado com limite de tempo determinado, nas doenças do esôfago, estômago e duodeno. Seu uso exige que o indivíduo tenha um diagnóstico, normalmente alcançado com a endoscopia digestiva alta, cujo tratamento raramente ultrapassa seis semanas. Poucas são as indicações de uso prolongado e, nesses casos, pode ocorrer redução da absorção de vitamina B12 e cálcio no intestino, formação de pólipos benignos no estômago e interação com diversos medicamentos de uso diário, aumentando ou reduzindo sua ação. A prática de usar o omeprazol para "proteger" o estômago é perigosa e inútil e, mesmo para os anti-inflamatórios, é importante perguntar ao médico se é necessária a associação.

Anti-inflamatórios – esses fármacos inibem a enzima ciclo-oxigenase, que perpetua a inflamação; entretanto, esta enzima está presente em diversos órgãos onde desempenha funções importantes e que serão prejudicadas durante o uso do anti-inflamatório. Por causa disso, usar este medicamento por tempo prolongado exige vigilância, em virtude de efeitos indesejáveis sobre a mucosa digestiva, o coração, a pressão arterial, brônquios, rins, fígado, pâncreas, medula óssea, pele etc. Lembre-se: até os velhos Melhoral ou Engov que encontramos nos bares têm anti-inflamatório em sua composição!

Anti vertiginosos – alguns dos tradicionais medicamentos usados cronicamente para inibir a sensação de tontura, popularmente chamada "labirintite" (Stugeron, Vertix...), podem causar sintomas idênticos aos da Doença de Parkinson, provocar desânimo e ganho de peso. E não podemos deixar de falar da campeã dos balcões, a ginkgo biloba, vendida até pela TV e usada como panaceia para todos os males, que vão desde a impotência sexual até a prevenção da doença de Alzheimer. Sua única ação, de fato aceita pela comunidade científica, restringe-se à melhoria da microcirculação, especialmente do ouvido interno e dos vasos periféricos. Importante lembrar que apesar de ser um fitoterápico, não está isenta de efeitos colaterais como risco de sangramentos, insônia, reações alérgicas e até crises convulsivas quando tomada em altas doses.

Enfim, uma antiga máxima das escolas de medicina que deve guiar a caneta do médico, primun non nocere (primeiro não prejudicar), nunca funcionará plenamente se a cultura da auto medicação continuar prevalecendo.


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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O que você deveria saber sobre anemia.
Fadiga, palidez, cansaço fácil, palpitações e falta de ar: quem desconfiou que os sintomas correspondem à anemia acertou. Afinal, estes sintomas clássicos podem ser causados pela diminuição da concentração de hemoglobina em nosso sangue, que pode ser facilmente constatada através de um hemograma. Então, o próximo passo é dar uma vitamina à base de ferro e está tudo resolvido, não é mesmo? Bem, a partir daí não é tão simples assim...

Inicialmente é importante entender que essa baixa concentração de hemoglobina dentro dos glóbulos vermelhos, que circulam em nosso sangue, dificulta a chegada de oxigênio aos tecidos e pode ter várias causas. Outra informação importante é que nem sempre aqueles sintomas aparecem, mesmo que a taxa de hemoglobina esteja muito baixa. Nos casos em que a instalação da anemia foi lenta, o organismo se adapta progressivamente à privação de oxigênio.

Ao falarmos da anemia e sua investigação, muitas informações importantes já podem ser retiradas de um simples hemograma, que qualquer laboratório realiza. Pode haver indícios de anemia causada por doenças crônicas, de anemias carenciais (por falta de algum nutriente) ou de anemias decorrentes de defeitos genéticos na síntese da hemoglobina. A forma, a quantidade e o tamanho do glóbulo vermelho que o técnico vê no microscópio são os primeiros sinais indicativos das diversas causas de anemia.

Analisado o hemograma, então o médico guiará sua pesquisa laboratorial buscando responder às seguintes perguntas: se meu paciente tem carência nutricional, ela é de ferro, vitamina B12 ou ácido fólico? Há alguma perda sanguínea crônica, não percebida? Alguma restrição alimentar ou abuso alcoólico justificam essa carência? Se meu paciente tem uma doença crônica, como a insuficiência renal ou a cirrose hepática, ela pode explicar a anemia que encontro? Por outro lado, percebo que está ocorrendo uma destruição maciça de glóbulos vermelhos, denominada hemólise: será pelo uso de algum medicamento, alguma doença autoimune, algum crescimento anormal do baço ou este paciente tem alguma herança genética que inviabiliza a presença da sua hemoglobina dentro dos glóbulos vermelhos? Vejo que nada disso ainda explicou a anemia que o paciente apresenta: será que há algo inibindo a produção de sangue na medula óssea? Havendo defeito na medula óssea, é reversível ou tratável?

Bem, logo percebemos que a identificação da causa das anemias é fundamental, apesar de extensa. A atitude intempestiva de se tratar a anemia, como se fosse uma receita de bolo, pode adiar o reconhecimento de outras doenças até mais graves.

Vale lembrar que nos indivíduos portadores de doenças pulmonares crônicas, insuficiência cardíaca, insuficiência coronariana e insuficiência vascular cerebral os sintomas dessas doenças ficam muito mais exuberantes se a anemia estiver presente. Afinal, nessas enfermidades já há uma dificuldade de oxigenação dos tecidos e órgãos que será agravada pela queda da hemoglobina no sangue circulante.

Concluída a propedêutica ou pesquisa, o médico estará capacitado a tratar a anemia de seu paciente. Como a maioria dos casos na população é causada por carência na ingesta nutricional, o uso de medicação oral resolverá o problema, desde que o tempo de uso seja suficiente para corrigir os estoques do nutriente faltante. Poucos casos exigem transfusão de elementos do sangue, que só deve ser utilizada em situações bem estabelecidas. Nas demais situações, o tratamento da doença que provocou a anemia – ou se manifestou através dela – é o procedimento mais correto e que poderá se mostrar eficaz.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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AIDS em idosos: você sabia disso?
Desde o surgimento das primeiras notícias sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA, ou AIDS em inglês – no início da década dos anos 80, esta doença infecciosa sempre esteve ligada ao conceito de que era uma particularidade dos homens que faziam sexo com outros homens ou dos usuários de drogas intravenosas. A meia verdade logo se revelou quando sua incidência passou a crescer entre heterossexuais de ambos os sexos, entre crianças nascidas de mãe portadoras do vírus HIV e entre enfermos que recebiam repetidas transfusões de sangue. Além da paulatina mudança em preceitos morais, religiosos e sociais que a epidemia forçosamente provocou, a discussão saiu do âmbito acadêmico e alcançou todos os lares, quase aposentando a expressão "grupo de risco" e confirmando a existência de um comportamento de risco a que todos estamos sujeitos.

Constatando essa progressiva transição na epidemiologia da doença, na população mundial e brasileira, hoje o Ministério da Saúde tem enfocado a importância do diagnóstico precoce, quando as chances de controle medicamentoso aumentam e a identificação dos contatos do portador fica mais fácil.

Dois segmentos populacionais têm despertado a preocupação das autoridades sanitárias neste momento: a do grupo etário homossexual entre 15 e 24 anos e a dos homens heterossexuais entre 50 e 70 anos de idade. Em ambos os casos esse comportamento de risco está mais evidente, pois há menor preocupação com a possibilidade do contágio, utilizam-se menos preservativos e há maior promiscuidade nos contatos sexuais. A maior expectativa de vida dos portadores do vírus HIV, proporcionada pelos medicamentos antirretrovirais ao longo das últimas décadas, possivelmente tenha retirado o caráter dramático do adoecimento pela AIDS. O curso da doença, anteriormente fulminante, se alongou e criou a ilusão de proteção definitiva, fazendo com que aqueles indivíduos "baixassem a guarda" e se tornassem hoje motivo de alerta para o Ministério da Saúde.

Em relação ao grupo etário mais velho, adultos com mais de 50 anos de idade, há algumas particularidades interessantes: a atividade sexual cresceu na mesma proporção em que se elevou o uso de estimulantes sexuais, como o Viagra, e os arranjos familiares e sociais se tornaram moralmente mais flexíveis, permitindo aos mais velhos novas experiências afetivas e sexuais. Estatísticas ainda mostram que apenas 1/6 da população com mais de 50 anos usa o preservativo, apenas 1/5 se submete aos testes sorológicos quando assumem comportamento de risco e que as mulheres idosas estão em maior risco de contaminação pelo HIV que as jovens.

Do ponto de vista médico, o diagnóstico de AIDS-SIDA pode ser erroneamente retardado, uma vez que infecções oportunísticas e redução da função imunitária também podem ocorrer em idosos debilitados, não contaminados pelo HIV. As infecções oportunísticas são as mesmas dos indivíduos mais jovens, como pneumonia pelo Pneumocystis, tuberculose, citomegalovirose, herpes zoster e micobactérias atípicas. O que chama atenção é a evolução muito mais rápida e fulminante, chegando a um índice de quase 40% de mortalidade dentro de um mês, a partir do diagnóstico, em idosos aidéticos com mais de 80 anos.

O tratamento atual utiliza os mesmos antivirais empregados em populações mais jovens, porém a resposta é menos satisfatória.

A nosso ver, ainda são tímidos os programas de prevenção e educação em HIV-AIDS voltados para a população idosa, bem como estudos dirigidos ao conhecimento da sua sexualidade, ainda enfocada dentro dos tradicionais modelos não sexualmente ativo ou heterossexual monogâmico que, apesar de majoritários, não refletem a atual realidade.

Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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PSICOPEDAGOGIA, O QUE É ISSO?
É comum ocorrerem dificuldades para identificar o trabalho específico e a atuação de um profissional da Psicopedagogia. Isto acontece porque na palavra Psicopedagogia aparece tanto a palavra psicologia quanto pedagogia. Muitos ainda têm dúvidas sobre a atuação do psicopedagogo e sobre seu trabalho na educação, saúde, ação social, ação clínica e institucional, assim como em organizações escolares ou não.

A Psicopedagogia se constitui num campo do conhecimento específico em educação e saúde, direcionado para a compreensão dos mecanismos cerebrais que processam a aprendizagem.

O psicopedagogo é um profissional preparado para atender crianças, adolescentes, adultos e idosos com problemas de aprendizagem, atuando na sua prevenção, no diagnóstico e no tratamento clínico-institucional.

No atendimento clínico de estudantes, o psicopedagogo realiza uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para acertos sobre horários, número de sessões, honorários, importância da frequência e da avaliação mais ampla da realidade familiar. A intenção é ajudá-los a identificar a melhor forma de estudar, organizando, de forma independente, o seu modelo de aprendizagem.

Na avaliação é possível identificar problemas específicos de aprendizagem e outros que poderão demandar a avaliação do psicólogo, do fonoaudiólogo, do neurologista ou de outros profissionais que o caso exija. O tratamento poderá ser feito com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico ou por outro psicopedagogo.

Durante o tratamento são realizadas diversas atividades com o objetivo de se identificar a melhor forma de aprendizado e o que pode estar prejudicando-o. Assim, com o trabalho do psicopedagogo, o indivíduo adquire maturidade, aprende limites, desenvolve o raciocínio e aprimora sua capacidade de concentração e atenção.


Anelise Caldonazzo Pinheiro
 
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Intestino preso é um problema?
Popularmente chamada de "prisão de ventre", a dificuldade em eliminar as fezes é um sintoma já experimentado pela maioria das pessoas. Sua ocorrência pode ser ocasional ou constante e, não necessariamente, exige investigação médica. 
Em determinadas situações do cotidiano como viagens, tensão emocional ou mudança alimentar, ocorre um retardo na eliminação fecal que é rapidamente corrigido quando cessado o evento. Em contrapartida, quando o fenômeno é prolongado e passa a gerar incômodo ou sofrimento é conveniente consultar um médico para que a causa seja estabelecida e, por conseguinte, efetuado o tratamento. Certo é que o uso de laxantes por conta própria, especialmente de forma rotineira, não é uma medida salutar. 
Comumente, as causas mais comuns de constipação intestinal são:
1. Alimentação industrializada e pobre em resíduos sólidos, uma vez que as fibras alimentares são imprescindíveis na formação e na expulsão do bolo fecal; 
2. Baixa ingestão de líquidos, o que aumenta a densidade e o ressecamento das fezes; 
3. Falta de mobilidade ou inatividade física, muito comum em indivíduos acamados ou sedentários; 
4. Adiamento da satisfação do desejo evacuatório, especialmente quando nos encontramos apressados ou em locais com sanitários impróprios. Sendo assim, deveríamos nos preocupar se o nosso intestino permanecer preso por longo tempo, mesmo com os maus hábitos corrigidos? 
Bem, uma avaliação clínica deveria ser realizada quando: 
1. Há coincidência da obstipação intestinal com o uso de algum medicamento, o que pode sugerir um efeito colateral permanente ou transitório; 
2. Fatores emocionais como depressão ou ansiedade são significativos e permanecem sem a devida abordagem; 
3. Algumas doenças estiverem presentes como hipotireoidismo, diabetes e doença de Parkinson, entre outras, que afetam a movimentação intestinal; 
4. Houver mudança recente do hábito intestinal, especialmente quando associada a perda de peso progressiva e acentuada, situação sugestiva de tumores malignos do intestino grosso. A presença de sangue nas fezes reforça muito esta suspeita; 
5. Ocorrer alternância frequente entre amolecimento e endurecimento das fezes, combinada a desconforto abdominal por excesso de gases, o que pode estar ligado à chamada síndrome do intestino irritável. 
Concluída a avaliação e descartadas as doenças primárias, muito provavelmente o cuidado sugerido pelo médico se baseará em medidas tradicionais relacionadas a hábitos alimentares e rotinas de exoneração intestinal. E quais são elas? 
1. Buscar horários regulares e confortáveis de ida ao sanitário, sem a pressão de um tempo restrito de permanência no recinto; 
2. Incorporar à alimentação diária a ingestão apropriada de líquidos e de fibras insolúveis, como farelo de trigo e aveia, além de folhas, bagaços, sementes e talos vegetais; 
3. Realizar diariamente caminhadas e exercícios que induzam à mobilidade da parede abdominal. Em casos mais resistentes, poderá ser necessária a prescrição de emolientes fecais de uso diário, procinéticos do tubo digestivo ou até mesmo de laxativos. Vale dizer que é muito importante que a escolha obedeça à orientação médica, uma vez que alguns dos tradicionais laxantes têm potente efeito catártico e podem provocar danos à mucosa intestinal. Nesse caso, o que parece solução torna-se um mais um problema.


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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Desmaio: o que causa e como proceder.
O desmaio, em linguagem médica chamado de síncope - do grego pausa, suspensão - é um sinal clínico que pode acometer indivíduos de qualquer faixa etária e invariavelmente gera apreensão. É caracterizado pela perda súbita e transitória do estado de consciência, com perda do tônus muscular (daí a queda) e recuperação espontânea. Habitualmente motiva uma consulta ao médico, por vezes em prontos-socorros, em que o indivíduo quase sempre chega plenamente restabelecido.

As estatísticas médicas revelam que pelo menos 3% dos adultos jovens e saudáveis sofrem um episódio de síncope durante a vida, enquanto entre idosos este índice chega a mais de 23%. A possibilidade do evento se repetir durante a vida, quando não investigado e tratado, se aproxima de 35%.

O que de fato atemoriza as pessoas é a existência de algum risco de morte associado a esse brusco apagamento da consciência. Os sinais e sintomas associados podem assustar bastante, já que, ao recobrar os sentidos, a pessoa ainda pode apresentar sudorese, palidez e sonolência. Entretanto, a grande maioria dos eventos tem uma causa benigna e é autolimitada, ou seja, resolve-se por si mesma independente da intervenção médica. Exemplo comum é a chamada reação vaso-vagal que algumas pessoas manifestam em situações de estresse agudo, como coleta de sangue ou procedimentos odontológicos, ou a hipotensão ortostática motivada por longos períodos na posição de pé em ambientes expostos ao sol. Há também o desmaio relacionado a desordens emocionais, uma manifestação psicossomática de ansiedade em que o indivíduo não perde a consciência, apesar de aparentá-lo.

Como sempre ressaltamos, importa aqui estabelecer a causa antes de tudo, pois quando a síncope tem uma origem cardiológica ou neurológica, as coisas mudam de figura e podem se relacionar a doenças com maior potencial de gravidade. Dentre as causas cardíacas, as mais comuns são as arritmias, o infarto do miocárdio e as doenças das válvulas cardíacas, situações que dificultam a chegada do volume sanguíneo necessário ao cérebro. Das doenças neurológicas que podem provocar um desmaio é sempre importante estar atento às epilepsias (nem sempre acompanhadas dos sinais de convulsão que todos conhecemos) e aos acidentes vasculares cerebrais ou derrames. Nesse grupo de doenças neurológicas também não podemos nos esquecer das quedas da pressão arterial relacionadas à neuropatia dos diabéticos de longa data, quando o organismo passa a ter dificuldades em corrigir rapidamente a pressão arterial quando o indivíduo fica de pé.

Outras causas menos comuns, nem por isso desconsideráveis, são a síncope pós prandial (relacionada às refeições), aquelas relacionada à tosse, defecação ou micção e a síncope causada por medicamentos que provocam redução da pressão arterial.

Enfim, diante de uma vítima de desmaio que não aparenta ter complicações e que tenha recobrado a consciência, o importante é manter a calma, não tentar levantá-la do chão de imediato e buscar informações sobre eventos semelhantes no passado. Dados sobre uso de medicações, bebidas alcoólicas e sintomas que precederam a perda da consciência também são muito relevantes e devem ser repassados ao médico que prestará o primeiro atendimento.

Já em situações mais complexas, que envolvem parada cardiorrespiratória em locais públicos ou no domicílio, é necessário um conhecimento mínimo em como realizar a reanimação para que ela seja bem sucedida. Afinal, estatísticas estadunidenses indicam que apenas 5 a 8% das vítimas de parada cardíaca fora do hospital sobrevivem. Diante disso, a Associação Americana de Cardiologia, através de seu comitê de emergências cardíacas, propôs em 1992 a existência de desfibriladores cardíacos automáticos externos em grandes eventos e em locais que aglomerem dez mil ou mais pessoas. Associado ao treinamento em suporte vital básico, plenamente acessível ao público leigo, qualquer cidadão estaria capacitado a prestar o primeiro atendimento até a chegada de pessoal especializado.


Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna
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