SOBRE AS DESORDENS DA PERCEPÇÃO

Nós, seres humanos, agimos conforme a forma com que percebemos a realidade e o julgamento que fazemos daquilo que foi percebido. Isso explica, por exemplo, situações atualmente não aceitas por nossa sociedade, mas aceitas e julgadas corretas por outras culturas, como a submissão das mulheres, o preconceito de raça, entre outros equívocos. Isso também vale para o julgamento de situações como importantes ou ameaçadoras,  que, em última análise, molda as diferenças das sociedades.

Entretanto, há doenças mentais em que a percepção e o julgamento do indivíduo são peculiares e não compartilhadas por seu grupo social. Essas são ditas doenças psicóticas, em que o indivíduo quebra o seu contato com a realidade. Nestas, comumente, o indivíduo apresenta alucinações que são percepções auditivas ou visuais de objetos irreais, tal qual fossem reais, e delírios. O julgamento dos indivíduos nesses casos é distorcido, induzindo a pensamentos de que são perseguidos por entidades sobrenaturais ou de que estão com uma doença mortal inexistente.

Depreende-se da explanação que a gama de vivências psicóticas é ampla. Podem decorrer do uso de drogas lícitas ou ilícitas, de doenças físicas ou de doenças mentais como a depressão, doença bipolar e a esquizofrenia. São graves, porque há grande risco para si e para outrem. Afinal, o paciente se guia pelo julgamento distorcido, por exemplo, ao gastar mais dinheiro do que o possível, motivado por delírios de grandeza.

Os sintomas psicóticos, que ocorrem na doença depressiva bipolar ou são relacionados ao uso de substâncias ilícitas, resolvem-se normalmente, assim que o fator causal é resolvido. Na esquizofrenia, todavia, os sintomas psicóticos são contínuos e constituem a característica central da doença. Acomete 0,8 % da população mundial e, antes do surgimento de eficazes medicações e abordagens psicoterápicas, tornava seus portadores inválidos e até perigosos para a sociedade. Atualmente, estas ferramentas lhes permitem ter uma vida plena, em que suas percepções diferentes são, inclusive, materiais para inéditas obras de arte e invenções.

Deve-se lutar para que os portadores de doenças psicóticas tenham acesso a tratamentos eficazes e individualizados e expressem amplamente sua cidadania. Deve-se lutar contra o uso de substâncias ilícitas que podem até tornar o usuário esquizofrênico em definitivo. E, ainda, lutar para que nossas percepções sociais comunguem dos valores fundamentas da ética, da cidadania, do respeito e da tolerância à diferença. Assim, evitaríamos influências nocivas de doenças graves e equívocos como a escravidão.   

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 

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