SOBRE O USO DE CRACK : TEMA ÁSPERO, MAS NECESSÁRIO

O crack vem ceifando vidas de brasileiros no início de sua vida produtiva há mais de 15 anos. Entretanto, há aproximadamente 10 anos, caminhou para uma massificação e chegou, até mesmo, ao interior do Brasil.

Resumidamente, o “crack” é a cocaína fumável. No uso inalatório a cocaína é absorvida pela mucosa nasal e, na forma de “crack”, ela é absorvida por toda a mucosa pulmonar (que, se fosse estendida, teria o tamanho de uma quadra de tênis). Como o crack é queimado, sua industrialização é simples, o que o torna mais barato que a cocaína.

Já foi comprovado que 2 ou 3 usos provocam a dependência. Esta dependência é, infelizmente, uma das mais intensas observadas pela medicina. Enquanto o uso esporádico ocorre em usuários de álcool, maconha ou cigarro, pelo menos 90% dos usuários de crack caminham para uso compulsivo. É comum, inclusive, permanecerem 48 horas fora de casa, em uso contínuo! Daí a limitação que esta droga causa nas vivências familiares e sociais do usuário. Se não tratados, 25 % dos usuários podem, em 5 anos, morrer em decorrência de consequências diretas e indiretas do uso.

O usuário de crack normalmente já foi usuário de maconha, cocaína ou álcool. Ao iniciar o uso, gradualmente migra para seu uso exclusivo, ou associado ao álcool. Seu baixo custo e a facilidade de na aquisição, que ocorre nos mesmos locais de venda dos outros entorpecentes, favorece o início do uso.

A prevenção mais eficaz do uso do crack seria a detecção precoce e o melhor tratamento possível do usuário das substâncias citadas, as “portas de entrada”. Para isso, é importante nossa maior proximidade de nossos filhos, assim como uma política de “tolerância zero” a qualquer entorpecente, incluindo o álcool e o “lança- perfume”.

Após a adicção ao crack, o tratamento é bem mais difícil devido aos fatores já citados. Deve ser multidisciplinar, associando suporte familiar, psicológico e de grupos de apoio, além de suporte medicamentoso. Fatores colaboradores do uso devem ser tratados como qualquer doença psiquiátrica, bem como os conflitos familiares e os problemas sociais. Além disso, é comprovada a eficácia dos “12 passos” neste tratamento.

Em casos mais graves, normalmente é necessária a internação hospitalar ou em comunidades terapêuticas. Assim, o paciente passa a fase mais crítica da abstinência e “fissura” em ambiente protegido do acesso à droga. A recaída no uso, durante o tratamento, pode ser comum, mas, se ele é rapidamente retomado e corretamente trabalhado, o sucesso do tratamento não fica comprometido.

Existem medicações que diminuem de forma parcial e significativa as “fissuras” e a abstinência, porém aguardamos com muita expectativa tratamentos medicamentosos mais eficazes, já em pesquisa.

Dr Jairo Pedro Cardoso Júnior
 

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